Brendan reparava com olhos críticos no modo como o homem estranho e sua professora se portavam um com o outro. Era inegável que ambos eram bonitos e atraentes, mas vez ou outra se olhavam como se tivessem uma ligação íntima e latente. O moreno, ainda deitado como um bobo na extensa cama, os olhava com uma curiosidade infantil.
Fazia cerca de vinte segundos que o silêncio pairava sobre o quarto, deixando um ar indecifrável o penetrando. Porém, em dado momento o rosto do adulto se iluminou como se ele houvesse se lembrado de algo.
— Desculpe-me, não sei como fui esquecer logo disso – ele falou, aproximando-se mais de Brendan e lhe estendendo sua mão – eu sou Luke. Muito prazer.
Brendan o olhou bastante intrigado. Era óbvio que o jovem, Luke agora, esperava que ele apertasse sua mão tradicionalmente, mas a confusão que ocorria na mente do adolescente o deixava receoso.
Luke recolheu a mão e suspirou.
— Eu entendo. Primeiro, vamos às explicações! – Brendan pareceu mais aliviado ao ouvir o vocábulo “explicações”, afinal, era tudo que ele queria – Antes de tudo devo te avisar de algo: você não vai acreditar em absolutamente nada que eu disser, então deverá raciocinar o que aconteceu com você hoje e então poderá reconsiderar se é verdade ou não, tudo bem? – o garoto achou aquilo um pouco estranho, alguém vai te contar algo e logo avisa que você não vai acreditar, é de se suspeitar. Mas ele assentiu, precisava de respostas – Então. Aquilo que te perseguiu ontem é um... Como dizer? Talvez uma subdivisão dos humanos comuns, ele era um Guardião. Guardiões são uma forma vivente no mundo humano dos Portadores. Todos eles são descendentes do Mágios, uma dimensão paralela à humana, tão ligada a ela que as duas poderiam se fundir se não fosse O Manto. O Manto é uma expressão figurada, não existe uma real barreira física, apenas uma propriedade poderosíssima que impede que o Mágios e o mundo humano se fundam. Lá nessa dimensão é comum nascerem seres que os humanos normais denominam como magos, bruxos, feiticeiros e outras expressões, mas que nós fazemos questão de chamar de portadores – ele checou a expressão de Brendan, que era de pura incredulidade, mas ele já esperava isso. – há muito tempo atrás portadores começaram a nascer no mundo humano. Aparentemente, eles nasciam com a função de manter O Manto em perfeita ordem, impedindo que os dois mundos se unissem, daí o nome guardiões. Ou seja, todo guardião é um portador, mas nem todo portador é um guardião. Em resumo, é isso.
— E vocês dois são... guardiões?
— Sim! – Luke se sentou perto de Brendan e o fitou nos olhos – E você também! – o adolescente começou uma risada debochada que Luke cortou com um simples olhar arisco.
O homem de cabelos claros sabia ser simpático assim como sabia ser amedrontador. Ele falava com tanta propriedade e confiança que Brendan não se sentia no direito de desafiá-lo, mesmo que achasse aquela história maluca o maior conto de fadas que já ouviu.
— E foi a fada madrinha que te contou isso? – o garoto ainda teve a coragem de soltar esse deboche.
Mas a reação de Luke foi realmente bem inesperada. Ele não se estressou, deu um sorriso fino com o canto dos lábios e desafiou Brendan.
— Você usa drogas? – a surpresa na feição do adolescente era bem mais que óbvia.
— Não.
— Remédios? – Luke estava completamente calmo, ainda com o sorriso no rosto.
— Não – Brendan não entendia o porquê das perguntas sem noção, mas preferiu esperar.
— Tem certeza absoluta que não tem esquizofrenia?
— Óbvio que tenho! – ele estava tanto indignado quanto confuso.
— Então me explique uma teoria lógica e extremamente óbvia de como um homem de preto te perseguiu, te jogou no chão com simples palavras, aproximou as unhas da sua barriga e te fez se contorcer em dor até ficar inconsciente. Ah! Claro! E como uma garota te salvou manipulando a água da chuva para sufocar esse homem! Isso é algo extremamente normal nas ruas da cidade – ele respirou fundo e sorriu confiante – certo, Brendan?
O adolescente estava sem palavras. Apenas com aquela frase Luke lhe abriu os olhos como se um clarão invadisse sua mente. Parecia impressionante, mas ele conseguia acreditar naquilo depois de ponderar sobre os acontecimentos que ele presenciou algum tempo antes de estar ali. Ele respirou fundo, vencido pela teoria de Luke, era difícil ele acreditar, mas depois do que vira ele acreditava que não custava nada ao menos tentar entender.
— Tudo bem, vamos supor que isso é verdade mesmo. Vocês podem pelo menos me dar uma demonstração?
Luke assentiu e aproximou-se de um frasco na mesinha, ele aproximou sua mão do objeto e sussurrou uma palavra que Brendan não entendeu. E bruscamente o frasco se ergueu no ar, próximo a mão de Luke. Brendan estava pasmo, mas resolveu alfinetar mais um pouco.
— Já vi muitos mágicos de circo fazerem coisas bem mais difíceis!
As feições tanto de Luke quanto de Victoria eram de pura indignação. Aquele desafio parecia uma grande afronta. Ele ainda não sabia, mas estes “mágicos” que faziam truques não eram nada bem vistos pelos guardiões. Mas é claro que o adulto não se deu por vencido. Ele sorriu e com um simples movimento de sua mão o frasco viajou por todo o quarto a uma impressionante velocidade. Como última demonstração Luke indicou a janela e o recipiente saiu por ela rapidamente, voou e depois voltou.
— E agora? Só pra constar, isso é uma magia de levitação bem simples, feita pra objetos pequenos e leves, não é difícil de executar.
Brendan estava pasmo, muito pasmo. Ele abria a boca sem conseguir dizer absolutamente nada.
— Me desculpem, mas... mas é que é muito informação pra mim – ele falou aquilo como se estivesse traumatizado e isso desfez o sorriso levemente arrogante de Luke.
— Tudo bem, Brendan. Normalmente os guardiões são filhos de um ou dois guardiões, porém, pode ocorrer de uma criança humana simplesmente nascer uma portadora. Aí é necessário que os pais vão lentamente introduzindo a ideia de magia para ela, mesmo que eles sejam humanos – Victoria o acalmou, afagando gentilmente sua mão, o que fez a expressão de Luke ficar mais rígida – sua mãe não fez isso, ela tem medo de que algo ruim aconteça com você, mas agora que sabe poderá aprender a se defender – a expressão de preocupação no rosto da ruiva era bastante intensa – no mundo dos guardiões o mal e o bem não são nada relativos. Você tem capacidades sobre-humanas, coisas que nenhum ser humano comum poderá entender ou dominar e não irá tirar proveito disso? Pode assaltar bancos, roubar milionários, matar pessoas que não goste, conseguir informações privilegiadas, adquirir mais poder matando outros portadores. É algo extremamente rentável e atraente! Porém, existem pessoas que tem como objetivo impedir isso, principalmente porque guardiões maléficos podem por em completo risco o sigilo sobre toda a nossa existência. Se os humanos souberem que existem “bruxos” ou “magos” no mundo deles ou vão odiá-los ou temê-los, em vez de acolhê-los. Isso seria um desastre, então são incrivelmente raros os casos de humanos que podem saber da existência dos guardiões. Existe inclusive uma magia simples que permite apagar toda as lembranças e informações que um humano tem sobre os portadores, O Manto, o Mágios, ou qualquer coisa relacionada a estes fatos. Ele não permite selecionar nada, apaga absolutamente tudo que ele sabe.
Brendan assentiu compreensivamente.
— Eu entendo, Victoria. E agradeço muito a você por me ajudar – ele então olhou para Luke e com um sorriso se corrigiu – agradeço muito a vocês por me ajudarem. Mas eu acho que preciso descansar um pouco, talvez isso me ajude a absorver tudo – Victoria assentiu e se levantou, pegando um copo com um líquido vermelho claro dentro.
— Bem, tem de tomar isto, vai te ajudar a se recuperar. Quando acordar e as coisas se organizarem em sua mente eu irei te explicar mais.
Ele tomou um gole do líquido que tinha um gosto doce e levemente azedo no final. Não era ruim, mas ele nunca tinha tomado nada semelhante antes.
— Ah! Só uma coisa – os dois olharam para ele – eu sei quem me salvou, ainda me lembro da voz e da forma dela. Foi Samantha, a garota nova da escola, certo? – Luke sorriu para Victoria e assentiu para o adolescente – então, onde ela tá?
Luke ergueu as sobrancelhas, obviamente interpretando de forma “maldosa” a curiosidade do garoto pela morena. Ele sorriu e disse.
— Ela foi cumprir uma pequena missão, ela vai vir aqui ainda, não se preocupe. Quando ela chegar vocês conversam mais. Agora tome a poção, não quero ninguém morrendo na minha casa.
Brendan deu um sorriso e terminou de sorver todo o líquido, sentindo seu corpo se anestesiar e sua consciência se esvair lentamente.
[...]
A garota estava extremamente emburrada. Seus cabelos castanhos com luzes loiras estavam presos em um coque improvisado acima de sua cabeça. Ela estava de braços cruzados andando por uma rua residencial de classe média.
— Eu queria estar lá no tal Palacete, Sam.
A morena revirou os olhos e deu um leve sorriso.
— Não seja ranzinza senhorita Melassi! Já estamos chegando.
Mais alguns metros andados e elas estavam diante de uma casa branca. Samantha olhou a amiga que indicou a porta para que ela chamasse a dona. A morena suspirou e deu três fortes batidas na madeira pintada de branco. Passos apressados foram ouvidos vindo em direção a porta. Uma mulher de uns quarenta anos, mas bem conservada apareceu, ela era realmente bonita, mas parecia extremamente preocupada.
— A senhora é a mãe do Brendan? – Giovanna perguntou com um sorriso e a mulher apenas assentiu.
Giovanna e Samantha olharam-se sérias. Então olharam para a mulher a sua frente, colocaram as mãos na cintura e com um tom de raiva perguntaram exatamente ao mesmo tempo:
— Qual é o seu problema mulher?!
A jornalista piscou três vezes sem saber o que falar.
[...]
Os olhos castanhos da ruiva olhavam fixamente uma pedra azul brilhante pendendo de um cordão dourado no pescoço de Luke enquanto preparava uma poção para Brendan, que dormia pacificamente na cama próxima aos dois.
— Que foi? – o homem perguntou com um sorriso.
Ela pareceu ficar um pouco sem graça e abaixou o olhar para seu afazer, erguendo-o em seguida e segurando a pedra.
— Você ainda a tem – ela disse como se estivesse surpresa com o fato dela conservar o objeto. Deu um sorriso de fascínio e depois olhou séria o homem – Mas sabe muito bem que é arriscado, deveria destruir essa pedra logo.
Luke pegou a gema azul e a observou com uma feição distante, estava se lembrando dos longos minutos de dor que ele sentira antes de morrer e da alegria ao acordar novamente e se deparar com olhos castanhos claros faiscantes o observando de perto aos prantos.
— Eu queria ter uma lembrança – ele aproximou-se mais dela – uma lembrança de tudo que você fez por mim, Victoria.
A ruiva engoliu em seco e tocou com leveza o peito de Luke com as duas mãos. Ela olhou por cima do ombro do jovem, fitando o garoto na cama e balbuciou.
— Luke... você acha que Brendan pode... pode ser Ele? – ela indagou.
O homem olhou para trás, como se para conferir se o garoto estava mesmo dormindo. Brendan respirava calmamente, vez ou outra sua respiração diminuía ou acelerava bruscamente, mas era absolutamente comum depois do trauma e dos machucados físicos que teve. Ele engoliu em seco e fitou Victoria novamente.
— Também consegue sentir a energia que emana dele? – ele perguntou, com a feição séria e com tons de preocupação percorrendo-a.
— Sim, muito. Mas Félix ainda não morreu. Ou eu acho que não. Será que teria como ele ser o novo sem a morte do anterior.
Luke não resistiu a olhar novamente Brendan, como se para conferir se a possibilidade que Victoria colocava em cheque era mesmo real.
— Talvez... – ele balbuciou e seu olhar se tornou distante – realmente, talvez.
[...]
A mulher ainda não sabia o que dizer. Duas adolescentes misteriosas apareciam na porta de sua casa e perguntavam qual era o seu problema sem nem ao menos se apresentarem. O que dizer?
— Ahn... Quem são vocês, eu posso saber? – ela perguntou, erguendo as sobrancelhas e sem esconder seu desagrado com a aparente arrogância das duas.
Giovanna tomou a frente e aproveitando que a mulher havia deixado a porta completamente aberta atrás de si ela a empurrou para o lado e puxando a amiga pela mão adentrou a casa sem pedir licença.
— Meu nome é Giovanna, esta é Samantha – a última parecia que iria calar a loira, mas esta nem deu espaço para a morena falar algo – somos amigas do Brendan, o seu filho e por culpa sua ele está ferido.
Um tremor percorreu todo o corpo de Lilian e ela se apoiou no batente da porta para não cair.
— Como assim? – ela perguntou, gaguejando muito.
Samantha, notando que Giovanna estava nitidamente alterada, decidiu tomar a frente e explicar.
— Ele foi ferido, Lilian. Estava andando na rua e um guardião o perseguiu e o feriu. Ele está bem, não vai ter nenhum dano posterior, mas não vai dormir aqui hoje.
A mãe de Brendan ficou visivelmente abalada e algumas lágrimas rolaram por seu rosto. O olhar dela ficou vazio e ela se sentou no sofá, apoiando a cabeça em sua mão esquerda.
— Era por isso... era por isso que eu não queria que ele se metesse com essa gente! – ela notável o tom de escárnio que ela tinha ao falar “dessa gente” – E eu preciso vê-lo, preciso trazê-lo de volta pra casa.
— Não, não! – Samantha pareceu ficar com raiva do modo como ela se referia aos guardiões, mas logo se acalmou, recordando-se que se deixar abalar não daria em nada – Se me permite dizer, a culpa não é nossa. Portadores são como humanos, alguns serão as melhores companhias pra ele, outros poderão matá-lo. Seria a mesma coisa que negar que Brendan é humano por isso ser arriscado e falar para ele não conviver com ninguém porque são humanos e podem ser perigosos pra ele! – ela respirou fundo e acrescentou – E não, ele não vai dormir aqui e você não vai poder ir vê-lo.
— Vocês não podem fazer isso, eu só quero protegê-lo!
Giovanna não escondia seu desagrado completo com esse draminha maternal tão clichê que chegava a ser enjoativo. Mas ela engoliu sua raiva, deu alguns passos para mais perto de Lilian e com uma feição o mais natural possível ela falou:
— Você não acha que já prejudicou demais ao Brendan com essa sua mania de tentar protegê-lo? Ele é um guardião, ele é um portador e isso é inegável. Inimigos nasceram do chão para matá-lo e ele precisa, repito, precisa aceitar-se como alguém diferente para sobreviver. Afinal – ela se abaixou em frente à tão protetora mãe e a fitou quase que compreensivamente – se ele não se proteger de pessoas capazes de destruir um carro com meras palavras, quem vai fazer isso, você? Óbvio que não! – ela se levantou e suspirando se direcionou a porta – Bem, já te avisamos. Amanhã talvez seu filhinho queridinho esteja aqui! Vamos Sam, precisamos ver se o Brendan está bem. Não se preocupe Lilian, ele está nas melhores mãos que poderia neste momento, mesmo!
A preocupada mãe deu um suave sorriso e assentiu. Samantha moveu seus lábios em um largo sorriso de contentamento, enquanto Giovanna, mesmo muito satisfeita, preferiu não sorrir, ainda achava a mãe de Brendan muito irritante.
[...]
As gotículas de água respingaram no tênis do jovem. O homem vestido de preto cuspiu um pouco de sangue e soltou uma áspera risada irônica que só irritou mais ao ruivo. Ele agarrou aquele ser nojento pela gola do casaco e o colocou contra a parede. Ele ergueu o punho ao lado de seu rosto e desferiu um golpe contra a face do homem, deixando um hematoma roxo abaixo de seu olho.
— Hey – uma voz passiva e grave disse – não vá matá-lo, precisamos dele vivo!
— Eu sei – disse o homem de cabelos vermelhos intensos olhando por cima do ombro para o companheiro atrás de si. Em seguida fitou os olhos do homem de novo – Não me faça perder tempo. Onde ela está? – ele disse as três últimas palavras bem lenta e enfatizadamente.
O homem deu um leve sorriso. Seus olhos sem íris e de pupila pequena demonstravam toda sua diversão em vez a fúria no rosto do ruivo.
— Não sei de quem está falando!
O jovem olhou para baixo e deu um sorriso que ficava entre o furioso e o debochado. Em seguida ergueu seu rosto e sua feição enrijeceu-se novamente. Ele agarrou o homem pelo pescoço e pressionou com força a traqueia dele.
— Tudo bem, chega de joguinhos. Eu estou falando da Annabelle e eu sei que você sabe quem ela é. Agora... – ele pegou uma barra de ferro de quarenta centímetros que estava ao alcance de suas mãos, em cima de diversas caixas de papelão e com um simples olhar aqueceu a ponta do metal - ... irei te explicar o que vai acontecer. Primeiro, eu vou passar essa barra de ferro quente na sua pele. Vai doer muito mesmo. Você pode não se importar em morrer, mas quem gosta de sentir dor, hein?
— Não vai adiantar. Tem pessoas que não querem que eu abra a boca, uma ou duas palavras e eu morro bem aqui, na sua frente.
— Não sou um garotinho inocente. Riscos são eliminados quando eles surgem, se realmente houvesse um modo de te matarem para que não contasse nada, já estaria morto. Então... – ele tocou a aresta do metal em uma das cicatrizes do homem, criando um grito de dor – fale o que sabe dela!
Finalmente o sorriso dele se desfez, estava vencido.
[...]
Samantha e sua amiga andavam por uma rua asfaltada, na direção contrária a que vieram. As duas se encontravam em uma conversa cautelosa e interessante a ambas, a qual parecia tomar toda a atenção delas. Estavam tão distraídas que nem notaram o som de passos velozes atrás de si. Quando Giovanna olhou para trás, intrigada, apenas viu um vulto branco se jogar sobre si, a derrubando violentamente no chão.
— Você não olha por onde anda não, traste?! – ela perguntou, sem nem ao menos reparar a quem se referia.
Quando seu olhar finalmente se fixou a uma imagem, ela visualizou uma estranha figura. Era um garoto entre dezoito e dezenove anos, alto e de corpo esguio e forte. Tinha longos cabelos negros, realmente longos para um homem, que cobriam toda a suas costas. A pele tinha uma tez morena e seus olhos eram estranhamente azuis. Ele estendeu a mão para ela e ajudou-a levantar gentilmente.
— Perdão, eu estava com muita pressa e nem te vi na rua – ele falou, com uma voz tão calma que só fez irritar mais ainda a Giovanna.
A loira bufou e deu um tapa na mão do moreno, que segurava suavemente seu braço, quase a altura do bíceps.
— Eu estou bem! – ela disse, rispidamente.
— Vamos, cara, a Annabelle vai te matar se você demorar, vamos! – quem dizia era o jovem que o acompanhava, um rapaz alto e forte, de cabelos vermelhos bagunçados.
O moreno assentiu e soltou Giovanna sem nem ao menos tentar novamente se desculpar, continuando a correr. Samantha se aproximou da amiga e sorriu largamente.
— Ora, ora. Foi trocada por uma Annabelle! – ao que a outra respondeu com um olhar bastante hostil.
[...]
Era outro local, ao mesmo tempo muito distante e extremamente próximo a Brendan, Samantha e etc. Uma sala muito bem iluminada, de extremas dimensões, com paredes aparentemente feitas de puro cristal, o que fazia todo o local ser atingido pela luz de tal modo que deixaria qualquer um sem fôlego. Dentro da sala estava uma mesa extensa, muito rica em detalhes e em seu material, um metal liso e brilhante, de cor prateada. Diversas cadeiras se encontravam por toda a extensão da mesa, pelo menos algumas dezenas delas, porém nem todas estavam ocupadas. E na cadeira que se encontrava diretamente a direita do homem da cabeceira estava o foco de tudo.
— Sariek, você precisa ir ao outro lado. Isto já não está mais em discussão!
— Mas... – o homem de pose imponente parecia imaginar alguma desculpa – Por que eu? – era óbvia a sua indignação – quer dizer, vai ser um risco eu partir assim, do nada.
— Vai ser um risco você continuar aqui. Sua experiência é nossa única esperança nesse momento – era novamente o homem que se sentava na ponta da mesa e que chamava toda a atenção para si, junto com o tal Sariek.
O incumbido da tão importante missão se sentou novamente em sua cadeira. Ele usava um terno negro muito bonito, com uma blusa social branca, da mesma cor de sua gravata. Porém, o mais estranho era que de seus ombros pendia uma capa alva, com uma estranha pedra quadrada semelhante a um ônix cor de mármore, do tamanho da capa de um CD, e que aparentemente não exercia qualquer diferença de peso sobre o fino decido. Ele suspirou pesadamente, fechando os olhos e coçando alguns poucos fios de barba que ele ainda mantinha no rosto ele abriu-os e fitou o aparente mestre.
— Tudo bem, eu vou.
E pode-se dizer que aquele foi o primeiro dia para o fim do mundo. Na existência humana os calendários de alguns poucos países já se encontrava um dia adiantado da maioria. O vigésimo primeiro dia de dezembro, dois milênios e doze anos depois do nascimento de Cristo, no calendário gregoriano. A maioria dos humanos o chamavam, com medo, respeito ou escárnio na voz de 21 de dezembro de 2012.