[Gameplay] Túneis Sombrios

Vocês chegam através da velha estrada. O caminho de pedra desgastado segue de maneira meandrosa por entre os campos acidentados dos arredores de Carcothia, fazendo curvas abruptas e dando longas voltas para desviar de paredes de rocha naturais que se salientam da terra seca e escura, quase tão negra quanto carvão, mergulhando por entre ravinas apertadas e escuras, e atravessando passagens precárias através de perigosos precipícios.

O caminho de carroça para Carcothia não é para os tímidos, nem para os fracos de coração. Possivelmente um mero presságio do que está por vir, pois os lugares para onde essa estrada de pedra desgastada levam são ainda mais tenebrosos.

No entanto, você não é tímido nem tão pouco fraco de coração, é? Não haveria para quê eu incluí-lo no testamento caso você fosse... Portanto fortifique sua mente e sua alma para os perigos que irá encontrar no trajeto, e lembre-se: Não existe bravura sem um pouco de insanidade. A estrada meandrosa irá levá-lo até o inferno... Mas é nesse abismo obscuro que você encontrará o que procura. Tal é o destino dos bravos!

Eventualmente, sua carroça para. O cocheiro, tão silencioso quanto taciturno, apenas remove seu chapéu e dá algumas batidas na parede da carruagem. O sinal para descer.

Pisando no chão escuro de Carcothia pela primeira vez, você inspira seu ar pesado, absorvendo pela primeira vez os cheiros dessa terra amaldiçoada. A sua frente, a estrada de pedra desgastada some em meio a um matagal fechado, de árvores negras e decrépitas. A floresta parece convidá-los, misteriosa e traiçoeira, como a mandíbula escancarada de uma fera. Além da copa das árvores doentes, é possível ver as torres eretas de um castelo de pedras cinzentas, erguendo-se imponentes e afiadas contra o céu, como as pontas de uma lança.

A frente de vocês, há um homem alto e esguio, trajado nas túnicas caras de um advogado. Seu rosto é longo e seu queixo é retraído. Seu nariz é curvado como o de uma ave de rapina, e sobre ele descansam dois pequenos olhos cansados, eternamente semicerrados e com escuras olheiras ao seu redor. Sua boca fina está fechada com força em uma linha quase perfeita, uma eterna expressão de desgosto. Sua pele é seca e um pouco enrugada, e seu cabelo preto é curto e duro como os pelos de um animal silvestre, os quais os anos já começaram a marcar com um leve tom de cinza.

- Bem vindos, Senhores e Madame. - Ele diz em uma voz rouca, fazendo uma leve reverência. - Meu nome é Thomas Sheffield, o testamenteiro do falecido Duque von Carcothia.

Sim, sim, como esquecer o Senhor Sheffield? O bom e velho Senhor Sheffield. Sempre sisudo e pessimista, pensando somente em dinheiro, colocando suas próprias necessidades sempre como prioridade, uma eterna expressão de desgosto em sua face murcha! Eu o detesto tanto em morte quanto o detestava em vida! Nesse mesmo momento, esse abutre velho está a frente de vocês, encarando-os em silêncio com seus olhos pequenos e estúpidos. Descubram logo o que ele quer, para que o mais cedo possível vocês possam se livrar de sua presença detestável!

Athos desce da carruagem sem ser perturbado pela dificuldade que é imposta ao não se ter um braço. Achei necessário citar isso.

- Bom dia para o senhor. - Ele diz ao advogado e faz uma pequena reverência. - Sou Athos Percy Kingsley Odell II. E o prazer é todo seu, não? - Os cantos da boca se levantam um pouco.

- Ver uma moça adorável assim é sempre um prazer para mim. - Athos faz uma reverência para ambos Viola e Frederick. - Presumo que viemos todos a negócios, não?

O homem ressecado na frente de vocês pisca uma vez, devagar, metodicamente, sua expressão facial permanecendo imutável.

- Deveras. É um imenso prazer conhecê-los pessoalmente. - Ora, mas é um farsante de marca maior. Um perfeito exemplo de embusteiro. Um mentiroso inveterado. O nosso louvável Sr. Sheffield não saberia o que é prazer nem se todas as concubinas do imperador caíssem de pernas abertas sobre suas ancas nuas, uma por uma! Eu apostaria o último dos meus marcos que ele manteria essa mesma expressão desprezível em seus lábios. - Infelizmente, eu devo lamentar que o quarto herdeiro não irá comparecer hoje.

Desafortunado é o quarto herdeiro, que já perdeu antes mesmo do jogo começar. Eu rezo para que sua carroça não tenha despencado de um dos traiçoeiros barrancos de Carcothia. Não... Mortos não tem necessidade de mentiras. Em verdade, eu não podia me importar menos com o que aconteceu ao pobre idiota!

- Já que estamos todos aqui, podemos ir direto aos negócios? - Negócios, negócios, sempre negócios. - Perdoem-me por pegá-los de surpresa, mas sua primeira, hmm, missão irá começar aqui mesmo. - Ah, os jogos começam. - Pensem nisso como, hmmm... - Ele lambe os beiços, tentando lembrar da palavra que ele procura. - Um teste preliminar. Um pré-requisito para certificar que vocês estão preparados para os desafios vindouros.

Ele aponta para as torres do meu outrora imponente castelo: - Todos podem ver o castelo do duque, correto? Seu objetivo é simplesmente chegar até ele. Dado as condições das estradas no bosque, a densidade da vegetação e os... Perigos... Que se encontram por lá, eu diria que deve demorar um pouco mais de uma hora para vocês chegarem ao outro lado. Obviamente, vocês não estarão sozinhos. Seus guarda-costas estão esperando um pouco mais a frente.

Ele então estaciona seus olhos de lagarto sobre cada um de vocês, permanecendo por alguns segundos antes de mover-se para o próximo, como que tentando ler a composição química de cada um, ou talvez a resiliência de seus espíritos, quem sabe? - Se vocês tiverem mais alguma pergunta para fazer, essa é a hora.

- Só espero ser capaz de me defender...  - Ele suspira. - Mas, creio que uma caminhada nunca parou nenhum homem. Ora pois, uma ventania ou outra não são capazes de derrubar um velho carvalho!

- Os perigos da floresta? Animais selvagens. Estúpidos, sim, porém bastante perigosos. - Ele se vira por um momento para olhar as árvores. - Há rumores de acontecimentos... Sobrenaturais nessas florestas. Por favor não me peça detalhes. Eu mesmo só ouvi as histórias.

De que serve hesitar agora? Vocês já aceitaram vir até essa terra maldita. Querendo ou não, o futuro de vocês está ligado ao desse chão... Vocês estão tão presos a ele quanto eu!

Sigam em frente com coragem, meus impetuosos aspirantes, para que todos reconheçam sua chegada.

- É assim que construímos caráter na minha família! - Ele sorri. - Sim, sim, eu concordo, mas acho que talvez, para uma moça do seu estirpe não seja muito apropriado. Você estará comigo e com o cavalheiro Frederick, creio que não há com o que se preocupar.

- Lamento que seja um requisito para manter-se na competição, madame Brickenden. - O advogado sacode a cabeça. - Essa é a única vez em que vocês terão que participar de uma missão pessoalmente. No futuro, apenas os mercenários sob suas ordens irão precisar se arriscar. Dito isso, sinta-se livre para desistir e retornar pela estrada que veio, mas nesse caso estaria também abdicando da herança.

- Ademais, permita-me a indelicadeza de corrigi-lo, Lord Athos, mas cada um de vocês irá seguir um caminho diferente. Vocês só poderão contar com as habilidades de seus guarda-costas e seu próprio talento para a liderança. - Ele então olha para o céu, tentando determinar a posição do sol através da camada espessa de nuvens. - A tarde se aproxima. Os senhores fariam bem de se apressar.

Não se aflijam, minhas queridas oferendas. Em tempo vocês também irão se acostumar com o céu brumado e o clima melancólico de Carcothia. Temo que o azul do céu e os raios do sol sobre sua pele tornar-se-ão apenas calorosas lembranças.

Athos coça a barba. - Compreendo, é uma causa justa. Talvez eu até combata ao lado dos mercenários, conseguem imaginar isto? Um velho como eu matando bestas e conseguindo tesouros! - Os olhos dele brilham. - Correto, creio que já vou andando. Boa sorte e uma estrada calma para meu caro senhor e a bela senhorita, estarei aguardando na chegada! E claro, até mais ver senhor Thomas. - Ele acena e dá as costas, entrando na floresta. O guarda costas segue o senhor.