Capítulo 1 - Monte na estrela cadente
É sete horas da noite, e a rua está vazia e é um bom momento para ficar na calçada e jogar tempo fora.
- Sabe, eu tava pensando... – Uma garota, apoiada num muro, enfia a mão num saco gorduroso de fast food. – A gente não pode desperdiçar nossos erros.
O nome dessa é Marcela. Ela é baixa e os óculos dela sempre andam encardidos, mas não é como se ela se preocupasse em limpar eles. Seus olhos castanhos são como pequenos infinitos e ela gosta de passar tardes com o nariz enfiado em livros antigos. Além disso, tem interesse em fitas VHS, disquetes, computadores antigos e teorias da conspiração. Marcela é uma pessoa engraçada de se conviver.
Uma menina mais alta a acompanhava, sentada na calçada. – Hã... Do que ocê tá falando? – Ela foi pega num momento de distração, enquanto sua imaginação se perdia no céu.
Regina é o nome dela no cartório e na vida também. Como já disse, ela é alta. Os seus cabelos são vermelhos e vão até um pouco depois dos ombros. Tem o hábito de juntar dinheiro, para comprar uma casa na praia. Enquanto isso não acontece ela se contenta com um peixe beta chamado César. Tem gosto por listras e a cor favorita dela é azul.
Como você leitor já deve pensar agora, elas são amigas. Na verdade, são mais que isso, mas não vamos nos prender em categorias e nomes agora.
Marcela tira umas batatas do saco e joga na boca. – É simples, olha: Você erra e passa o resto da vida não tentando fazer o mesmo erro. Se você comete ele de novo quer dizer que você jogou fora o que já aprendeu.
- Faz sentido.
- Eu sei que faz. – A garota dá um risinho e limpa a gordura da boca com as costas da mão.
- Qual foi o seu maior erro?
- Meu maior erro?
- É. – Ela suspira e coloca uma mecha dos cabelos vermelhos atrás da orelha furada. – O que fez você aprender mais, nessa lógica aí.
- Acho.... Acho que... – Marcela enfia mais comida na boca, tentando pensar. – A vez que eu coloquei a mão no fogo. Eu era criança e não tinha noção... E isso me fez tomar cuidado com as coisas que não conheço.
- Tipo pessoas?
- É, pessoas...
Elas suspiram ao mesmo tempo e Marcela se senta do lado de Regina.
- E o seu, Rê? Qual o teu maior erro?
- Teve essa noite que eu quase virei um bando de remédio goela a baixo, mas eu desisti antes de fazer.
- Porque?
- Porque eu ia deixar muita gente pra trás e eu odeio deixar gente que eu gosto triste.
- Eu ia ficar triste se você fosse embora. – Seus olhos encontram o chão da calçada. – Você não vai fazer isso, vai?
- Não.... Vou não.
Um silêncio esquisito se arrasta por alguns momentos, até que Regina aponta para o céu pontilhado com algumas estrelas, resultado da poluição da cidade.
- Faz um pedido! – Ela diz alegre.
- Ok, ok! – A garota pensa em algo rapidamente e fecha os olhos com força.
- O que você pediu.
- Segredo!
- O meu também é segredo.
Por fim, Marcela se encosta no ombro de Regina e as duas riem juntas um riso gostoso.
- Eu também ia ficar triste se você fosse embora, Marcela.
O resto da noite se esvai em conversas, risadas e algumas estrelas perdidas.