[Finalizado] One Try Championship

Anastácio, o motorista

O sol acabara de raiar e como qualquer pessoa de classe média baixa, Anastácio já estava preparado para iniciar sua jornada de trabalho. Iniciar um novo trabalho, como motorista de transportes coletivos, seria um grande desafio, levando em conta todo o peso que o veículo suportaria, porém, a maior dificuldade, seria o barulho.
Como qualquer pessoa da "velha guarda", o homem possui uma certa intolerância quando quando se trata de estilos musicais. Amante do respeito por mulheres, não admite que as mesmas sejam insultadas nas letras vulgares cantadas pelo mundo a fora.

~X~


Pronto para sair para seu primeiro dia, o homem encontrava-se sozinho em sua casa. Sua família estava toda em um hospital, devido a um acidente ocorrido a algumas semanas atrás. Embora quisesse estar junto de sua família, Ano, como gosta de ser chamado, acabou sendo obrigado a trabalhar, por um simples motivo: pagar o tratamento de seus entes.

Preparado, não hesitou em partir. Apenas para chegar à garagem dos veículos seria necessário andar por pouco mais de uma hora e meia, por isso teria que sair tão cedo assim de sua casa.

A caminhada longa até o local foi tranquila, o senso de respeito do homem era muito grande e isso fazia com que o mesmo cumprimentasse todos que encontrava na rua, embora àquele horário não se visse quase ninguém. Ao chegar no estabelecimento onde seu objeto de trabalho encontrava-se, o mesmo não tardou a realizar todas as burocracias necessárias para finalmente começar a trabalhar,afinal, a vida dos integrantes de sua família dependia daquilo.

Com um supervisor, o motorista "pegou" um micro-ônibus para pilotar, pois sua rota seria um local pequeno. Ano teve um começo bom. Todo ocorreu nos mais necessários padrões e assim ele logo partiu. Sua primeira parada seria num local não muito longe dali, para falar a verdade, num bairro bem próximo.

A primeira parada foi realizada com sucesso e nela, poucas pessoas entraram. Anastácio cumprimentou todas, quem em sua maioria era composta de senhoras idosas que retribuiram as gentilezas. O motorista não tardou a continuar. A cada parada o veículo lotava mais e mais, sempre com uma grande quantidade de estudantes.

Independente do horário, boa parte dos passageiros parecia animada, falavam alto, e até ouviam música; o que preocupava Ano. O mesmo sabia que em determinada hora não aguentaria mais tantas músicas completamente fora de seu padrão, então explodiria.

De fato ele estava certo. A cada volta dada o número de estudantes crescia e cada vez mais animados, levando em conta todos os tipos musicais que já haviam passado por aquele ônibus em tão poucos minutos, não era de se surpreender a mudança de humor que acontecera com o homem. Agora ele sequer olhava no rosto de seus passageiros, e isso contava com pontos negativos para o mesmo. Seu supervisor continuava a observá-lo.

- Oh meu Deus, - Pensou Ano -Será que eu não conseguirei aguentá-los? Eu preciso desse emprego, minha família precisa do dinheiro. Por favor, dá-me paciência.

A jornada de trabalho do homem continuara, piorando cada vez mais. Quando o "horário de pique" havia terminado, Anastácio pensou que teria paz, porém, isso não seria possível. Ao ver dois jovens entrarem no ônibus, percebeu que não aguentaria mais nada. Os garotos pareciam estar matando aula, vestiam um uniforme diferente do das escolas da região, era de uma escola do outro lado da cidade, conhecida por não ter um padrão de ensino muito bom, devido ao comportamento dos alunos.

Os garotos até então não moiam sequer um dedo, apenas conversavam entre si, com o tom de voz moderado. O veículo até então estava vazio, tinha aproximadamente dez ou doze pessoas, contando apenas os passageiros. Poucas voltas depois, todos os passageiros já haviam descido em sua respectiva parada, apenas os garotos continuavam ali. O motorista chegou a dar duas voltas completas pelo bairro ambos os alunos infratores estavam lá. Anastácio estava certo de que ambos estavam matando aula, porém não podia fazer nada. Apenas ficou quieto, já que os jovens ainda não manifestavam-se.

O tempo continuou passando, os moleques que agora estavam entediados, resolveram ouvir algumas músicas em seus celulares. Clássicos funks, o estilo musical que o motorista menos gostava. Como não tinha opção de escolha e o ônibus estava vazio, Ano simplesmente e com muita educação pediu para que abaixassem a música, pois sentia-se incomodado com as letras. Os jovens não ligaram muito e como provocação, aumentaram o volume e mudaram a música. De fato o que ouviam agora era bem pior, algo vulgar e ofensivo como a letra: "Passa nela, passa nela, para o ... na cara dela".

Agora o motorista apenas tentava ignorar, mas aquele refrão ofensivo tirava sua paciencia. O mesmo voltou a pedir que os garotos abaixassem o volume da música ou simplesmente trocassem a trilha sonora. Como pirrassa, nenhum dos dois "ouviu" e ainda provocando, levantaram-se de seus respectivos lugares. Então começaram a simular gestos que mostrasse a intepretação da música. Chegaram até a abrir o ziper de suas calças, porém não colocaram nada para fora.
Vendo que Ano já não aguentava mais as provocações, o supervisor resolveu manifestar-se. Pediu para que os garotos se retirassem do local e, embora ambos parecessem não colaborar, acabaram descendo.

Anastácio agradeceu, e iniciou uma pequena conversa com o homem. Perguntou se aconteceriam ações como aquela todos os dias e foi respondido positivamente. O outro homem orientou que a melhor coisa a se fazer seria ignorar ou consequencias maiores poderiam acontecer.
O recem-motorista aceitou os conselhos. Seu turno agora estava acabando, teria o resto do dia de folga, talvez precisasse passar no hospital, mas certamente teria que melhorar e muito sua paciência.

Os próximos dias realmente seriam ainda mais complicados.

O Carteiro

‘Depois de algum tempo, nem se nota’

O carteiro, uma pessoa misteriosa, que apenas era bom com as pessoas, e nada de mal fazia, era ele, mas como nem tudo é um mar de rosas, ele não tinha só admiradores, mas também pessoas que não gostavam, seja por seu jeito ou seu tal mistério.

- Tenho uma entrega para o número 271, mas de jeito nenhum eu encontro esse tal lugar – Disse o velho carteiro meio preocupado por o que tinha de fazer.

Contra tempo vai, e fica, nada de encontrar tal número, que para surpresa dele não estava longe, nem em outro lugar; país; talvez até fosse um engano, erro de sua parte, ou até um trote.

Seria quase impossível não encontrar tal número, com tanta procura e motivação do velho. Após ter feito tal ato, foi à entrega, uma coisa totalmente óbvia, adentrando, encontrou um grande portão, de cor branca, meio suja e até cinzento, mas de fato, bem grande.

- Alô, alguém aí? Temos uma entrega para esse número – Gritou o tal carteiro e ao mesmo tempo batendo palmas para chamar a atenção alheia – Acho melhor chamar novamente!

Gritando por algumas vezes, mas não tanto desesperado, até fazia o som ecoar, e impressionado com tal acontecimento, curiosamente, ele tentou olhar pela abertura do portão, mas nada ele notou, então, sem muito hesitar, foi embora.

Vivendo a sua própria vida, livremente, sem até lembrar-se do que aconteceu noutro dia. Assobiando, cantante e sorridente, foi fazer as entregas, normalmente, com sua bicicleta, percebeu que havia um carro lhe seguindo, talvez aquilo fosse algum sinal do que houve há dias atrás, ou apenas uma coincidência, logo, ele segui para ver se o que ele pensava fora verdade. Então, parou; freou bruscamente, juntamente ao carro, assim, ele teve a certeza de que aquilo estava lhe seguindo, sem medo, foi até o vidro do carro e perguntou ao motorista o motivo daquilo.

- Senhor, gostaria apenas de saber se estava realmente estava me seguindo – Com uma grande ‘cara de pau’ perguntou isso a ele.

- Sim, estou lhe seguindo – Então, retirando a arma do bolso, com tal audácia e juntamente, empurrando o carteiro para dentro do carro – Você sequer sabe o que pode acontecer – Após, amordaçou a ele e fez tal ameaça.

Levou o velho homem até um lugar vazio, muito sujo, e totalmente descuidado, com pisos quebrados, tinta descascando da parede e sequer um móvel, era verdadeiramente um cativeiro.

- Sim, coma esse lixo, seu idiota, você não deve sair vivo mesmo – Gritou o bandido fazendo ameaças de morte, o velho sabia que não deveria fazer nada, a não ser, esperar.

Rapidamente, uma vizinha do próprio carteiro soube que algo de estranho havia acontecido, ele não havia saído de casa de manhã, e quando isso acontece se sabe que algo diferente vem por aí!

Ela resolveu então, ligar para a polícia, mas não antes de tentar ver se ele estava em casa, ela chamou, gritou bastante, bateu palmas, tocou o alarme que havia na casa dele, e bastante preocupada, ela foi ao gancho:

- Alô, por acaso é da polícia? – Disse ela com voz desesperada, como sempre se ouve em conversas com a polícia.

- Sim, senhora, poderia dizer qual é a emergência? – Bem baixo, e calmamente o atendente murmurou à senhora.

E depois de 4 a 10 minutos um carro chegou, com os comandantes da lei, perguntaram sobre o acontecido para a vizinha, ela respondeu, e com muito trabalho da polícia, que por muito, ainda era competente, eles de alguma forma conseguiram achar o lugar onde estava o carteiro e o bandido:

- Olá, jovem, peço que não faça isso, sei que não tenho tanta autoridade, mas... Tenha piedade.

- Ah, e se eu não quiser? Ao menos você presta atenção nas coisas, e eu tenho autoridade sobre você, seu velhote idiota!
Com a chegada da polícia, o jovem bandido mal conseguia pensar, aquilo era ‘peso demais para o cavalinho dele’. Os policiais rodearam a casa, e esperaram ao contato do homem, para assim, eles negociarem a soltura do velho. E já com o este aceso, eles começaram:

- Ei, acho que você não seria capaz de fazer isso, pense que quando você matá-lo, você vai ter que sair de qualquer jeito, e nós estaremos aqui, então, realmente não vai dar certo, então vá pensar, a gente tem o tempo do mundo – Como se fossem aquelas vozes da consciência, o especialista deu o conselho, só restava à sorte. E depois de algumas horas, certamente ele não aguentaria, e foi o que aconteceu, se tornando assim, bastante úteis as palavras do policial:

- Bom, acho que vou me entregar, não vou ficar bastante tempo preso, e eu voltarei – Voz preocupada e nada certa, com um tom de despedida.
E pensando no que aconteceu, o carteiro resolveu tomar conta de si, e até levou um bronca dos policiais, e terminou e com uma lição de moral, ele acabou o dia com um sono e medo total, afinal, quem não ficaria assim?

Às vezes a presença é apenas presença, e nada muda.

Alguns meses depois, nada demais aconteceu, o carteiro continuou sua carreira, e descobriu-se que ele havia desenvolvido um câncer, e muito traumatizado com medo da morte, depois de ter uma vida longa. Fazendo assim, sua última entrega que foi para coincidentemente para o número 272, depois, ele acabou morrendo, não tinha muitos parentes por perto, assim, tendo um enterro feito pelos próprios vizinhos.

O fato de ele visitar o número 271 e depois ser sequestrado, como algumas coisas, foi sempre um mistério, e a vida termina rapidamente, mas sempre a uma lição, todas nunca falham e demonstram um perigo, e...

‘Depois de algum tempo, nem se nota’.