Segundo capítulo com muitas situações em branco.
O início de incertezas nasce no eu interior de cada geração.
Proto - Bangor - Atma - Gen
As quatro cidades principais orgulhavam-se de terem seus nomes gravados no lema de Arris. As respectivas direções Norte, Leste, Oeste e Sul deveriam somente abrigar a pureza suprema. Estado que permanecia na mente e no coração de cada habitante da ilha.
Permanecia, riu ao pensar nisto. Logicamente, não via graça. Convivia com aquilo, já era de seu costume. A distinção era a parede que separava-a da igualdade doentia que todos tinham. A coleira (ou colar, como referia) soltava uma fraca luz vermelha, proveniente da funcional e tecnológica peça metálica presa no comprimento de couro negro sintético; que refletida no espaço alvo, o coloria. A portadora de tal adereço encarava até então, um canídeo desacordado entre os lençóis brancos. O mesmo que a despertara de um pesadelo rotineiro.
Contrastando com o restante claro, o ser negro tinha seus pelos tingidos com marrom -de terra úmida- e azul, o que considerou sendo da polpa das frutas que cultivava ao lado do quarto. A cor rubra também era presente no tufo de pelos -ou topete- entre as orelhas pontudas e manchadas da mesma cor; Assim como na cauda espessa. Jamais vira um Pokémon daquela espécie, porém podia afirmar que tratava-se de uma raposa. Este tipo possuía orelhas pontudas e focinho mais afilado que os outros, tal como aprendera. Na verdade, fora os poucos espécimes notados no livro de sua avó e os três pertencentes à dita, desconhecia boa parte da fauna. Uma diversidade proibida em Arris pelo ódio de seu povo para com ela.
Perguntava-se o quê poderia e/ou deveria fazer em relação ao animal. Todos em Gen ainda dormiam e era proibida de sair da cidade até serem despertos. Mas se quando acordassem, vissem o vulpino... Matariam-no pelo distúrbio provocado. A última vez que presenciara isto, fora há muitos anos e mesmo assim, recordava-se da cena grotesca e dos urros de desespero de um pequeno Pokémon incapaz de defender-se. E aí estava a situação que diferenciava-a dos demais. A jovem não via ameaça naqueles seres, tampouco os odiava.
Arris é uma terra pura.
Humanos devem depender apenas de suas próprias forças.
A co-existência danifica a pureza.
Os proibidos devem ser mortos para o bem de Arris.
Os que vão contra, são considerados Impuros
A escória e o perigo de nossa sociedade.
Somente os Puros tinham o direito de viver. Os Impuros eram os dementes que cooperavam com a contrariedade da lei e tinham o mesmo destino dos Pokémon, que por sua vez eram chamados de "Proibidos". Sua avó -a única pessoa que conhecia que compartilhava de seus pensamentos- sempre a dizia que o distinguir social daquele lugar era uma desgraça maldita. Nisto, discordava. Desgostava dos ideais de sua terra, mas não ia contra eles. Não podia. Se fosse contra, morreria ao ser considerada uma Impura. Temia a morte, pois foi ensinada a temê-la se a cuja viesse de atos mal-pensados e era egoísta para com sua vida, como qualquer humano crescido em tradições. Contudo... Queria fazer algo para mudar a mentalidade maioral. O quão conturbada não era por estas concordâncias e discordâncias que reinavam em espaços diferentes de si, e batalhavam constantemente?
Ouviu a raposa grunhir e sorriu. Ele continuava vivo.
Continuaria por quanto tempo?
Por misericórdia, dar-lhe-ia um fim rápido?
Capítulo 2 - Opposite MentalitySeu corpo estava dormente e tão dolorido quanto a cabeça. Que raios havia acontecido? Abriu os olhos quase que imperceptivamente e forçou as patas como uma base de seu levantar, a última tentativa foi falha. Flashs da queda no ambiente desconhecido passaram-se em sua mente. Odiou-se. Como conseguiu ser tão estúpido ao ponto de esquecer a cautela por comida?
A dor e a falta de força o incomodavam. O ar era gélido. Diferente. De uma friagem que penetrava a defesa de pelos e embalava-no num abraço indesejado e terrível; Mal sabia se era si pelos estados fisico e psicológico deploráveis ou a temperatura mesmo. Era algo ruim, muito ruim. O tinham pego? Não, tentava imaginar que não, pois se tivesse sido nem estaria sentindo nada. Estaria morto como os outros, e mortos não sentem nada. Então o que era aquele frio?
Medo.
Em meio aos desgostosos devaneios, ouviu um ranger longínquo. A garganta contraiu-se e acabou por soltar um rosnado baixo. O que pareceu mais um embolo percussor de ronronar.
— Calma. — A visão, mesmo depois de tempo pairada no nada turvado, focalizou-se com o susto ímpeto. Levantou-se de supetão, suas fibras ignorando o latejar e a decadência de força. Os olhos cianos estavam enevoados e nem um pouco brilhantes, se brilhassem seria de pura raiva, todavia estava mais assustado que irritado. Em sua frente, havia uma jovem humana. A mesma de antes. Lembrou-se de quando caiu nela, ter sentido dor na cabeça. Fora atacado. A garota estava em pé, próxima demasiado da cama e, consequentemente, de si. — Eu não vou machucar-te, então aquiete-se, por favor. — Seu focinho estava enrugado numa carranca irritada e seu rosnado reverberava no quarto branco. A humana tinha um dos dedos próximo aos lábios num pedido de silêncio.
O rosnado baixou alguns decibéis, mas a postura enrijecida permanecia. Seu corpo pequeno pesava. Reparou que a garota não se vestia como os humanos que o prendiam e os olhos dela... Também eram diferentes. Por mais estranho que soasse, os olhos foram a primeira coisa que reparou. Não eram branquicentos como os de todos eles, em vez disso, as íris assemelhavam-se a um turbilhão de verde e ciano que pareciam não mesclarem-se e as pupilas negras pareciam ter algo no interior. Seu transe fora quebrado pelo suspiro dela, que distanciou-se pouco para observá-lo melhor.
— De onde veio? — Indagou sem esperar resposta, retirando uma lisa mecha castanha que caíra na face pálida.
Ignorou-a, encarando todos os cantos do cômodo. Tinha que achar uma saída o mais rápido possível, não queria desmaiar de novo. Poderia morrer da próxima vez e não confiava naquela humana. Lembrou-se da janela e olhou para trás. Sua salvação continuava intacta. A garota não lhe aparesentava tanto perigo. Só não compreendeu o motivo dela não atacá-lo e/ou matá-lo diante de sua fraqueza. Quem se importava?
Quando suas patas tocaram o parapeito da janela, o vento deu-lhe boas vindas para a liberdade. Mas não era um vento comum e a liberdade tornara-se mórbida e dolorosa no mesmo momento que o som iniciou-se.
— Não saia!
Cada espaço de terra era ocupada gradativamente por um fino véu esbranquiçado. A névoa não se movia com o vento e se espalhava pelos cantos, como uma mão fantasmagórica. Não se sabia de onde vinha, nem onde ia. Apenas se sabia que vagava pelas construções, ao som de sinos inexistentes, presente na estátua de um anjo.
Seus olhos refletiam o véu branco que arrastava-se pelo chão gramado. A melodia pesada trazia-lhe dores inimagináveis para o corpo que já nem mais sabia se era seu. A névoa o tragaria se não tivesse sido puxado.
A raposa pequena parecia-lhe tão leve, jamais passou-se na mente que puxá-la tão rápido faria seu corpo ser jogado para trás. Rolava pelo chão, gemendo de dor e com as mãos atrás da cabeça. Suas costas também doíam, mas a cabeça era pior. Maldito fosse aquele Pokémon sujo e arisco, que diabos pensava ao se jogar da janela justo na hora do Toque? Ia cometer suicídio? Ou não sabia que a névoa era venenosa para os proibidos? Gemeu com a maldita dor.
O vulpino ainda pensava no que vira segundos antes. Suas patas em carne viva ardiam e o pelo que as cobria já nem existia, derretido. O quê era aquele véu assombroso? Ouviu a humana gemer uma última vez e a vira sentar-se, tirando os pés que enroscaram no lençol. Maneira desajeitada de puxar alguém e cair com o impacto.
Não compreendia. Iria morrer e este era o desejo dos humanos. Ela era humana! Por quê o salvou?! Fez a última indagação ao léu, sabendo que ela não o entenderia.
— Por quê? — Assustou-se com a fala da outra, que encarava-lhe. — Raposa idiota, por quê eu não o salvaria?
"Você é humana!"E respondeu, ignorando que ela o havia entendido. Estranhou quando ela fechou os olhos e sorriu.
— E mesmo sendo humana, eu te salvei, não? — Não rebateu. A jovem, sem resposta, murmurou a si mesma: — Eu salvei um Pokémon... O quê sou agora?
–§§§-
— Ah, querida, estamos tão orgulhosos de sua escolha!
— Sua mãe tem razão. Finalmente entenderás o conceito de Arris e pararás de pensar em bobagens.
A morena sorriu sem jeito, sendo sufocada pelo abraço da mãe. Os olhos branquicentos de seus pais não transmitiam nada, mas seus sorrisos eram o bastante para si. Saiu e despediu-se da casa branca idêntica às outras. Em certos olhares poderia ser vista uma fina névoa passeando em seus pés. Algo tão inofensivo quanto aquilo poderia matar o Pokémon que a acompanhava, oculto dentro da bolsa amarela e transversal.
Não sabia a espécie da raposa, então nem lhe dera um nome exato correspondente ao tipo, achava. Só se dirigia à ele como Noir, o quê correspondia à coloração predominante no quadrúpede. A criatura de pelagem negra e rubra, ganhara bandagens brancas nas patas dianteiras, e as feridas ainda doíam-lhe. Assim que fora salvo por uma da espécie desprezível que odiava, passou a confiar nela, mesmo que pouco.
"Alis... Espero que minha confiança em ti não seja despedaçada com uma traição. Eu não gostaria de matar àquela que me garantiu vida por mais um tempo incerto."— Ficarás repetindo isso até quando, Noir? Já disse que não vou fazer-te mau.
"..."—
Eu não farei... Mas não posso afirmar para eles. — Devaneou em pensamento, temendo algo que poderia vir a correr nas horas futuras.
O caminho até a saída nordeste da Cidade Geração fora curto. À caminho da casa da avó de Alis, os dois pretendiam descobrir uma saída ou fuga daquele lugar. A velha não era de Arris então saberia de algo. Fuga para um, seguimento do destino para outro.
Destinos diferentes em mentalidades opostas, era isso que achavam encontrar. Quão maldoso não pode ser o futuro já criado?