[MINI HIATO] Jogo Matrimonial - Parte 3

Tudo estava escuro.

Uma música podia ser ouvida ao fundo.

Uma figura então se destacou do chão, como num daqueles livros infantis que quando abertos revelam falsos mundos tri-dimensionais. Era um pianista sentando a beira do seu instrumento, o que ele tocava com afinco. Sua silhueta estava desenhada no chão. Seria ele um recorte? De papel? Seguido dele, ainda no breu, o resto da banda surgira: Uma violinista de óculos, uma violoncelista e um homem refinado de monóculo que tocava um tambor.

Em volta das crianças algo como arquibancadas de papel colorido se levantavam do chão. Uma tenda vermelha aparecia no firmamento aéreo que era o nada e dava a impressão de estarem num... Circo? Para completar a confusão, mais figuras se levantam: Um homem de smoking e cartola com um sorriso preocupante, dois brutamontes mal encarados vestidos a caratér circense, uma bailarina de seda rosa, um palhaço triste e um leão. Todas essas eram figuras bastante cartunescas.

Confete, também de papel, caí em cima das crianças e do picadeiro.

A banda continua a tocar.

O homem de smoking dá um passo a frente, meio que estragando a ilusão de cartolina e começa a falar. Uma outra cabeça se desdobra do seu pescoço, as crianças podem ouvir o barulho de papel. Ela então se dobra para trás da primeira cabeça, assim o homem consegue ver o que está a frente e atrás dele.

 - Respeitável público, sejam bem vindos ao Cirque du Freak! - Ele dá uma piscada e tira a cartola, fazendo um cumprimento. - Temos um espetáculo adorável preparado somente para vocês esta noite. - Ele joga o chapéu para cima das cabeças e dá um pigarro. O resto da trupe, incluindo a banda, fazem saudações. - Pois não, vocês serão a estrela principal de hoje. Não vamos lutar, porém. Meu nome é Janus. 

Tudo estava escuro.

Uma música podia ser ouvida ao fundo.



As crianças sentem um balanço, um grande balanço. Um vento forte vento que vem de lugar nenhum e o barulho das ondas de um mar raivoso. 

Algo como o convés de um navio feito de papel começa a se desdobrar em volta das crianças, igual nos livros de figuras tri-dimensionais infantis que revelam mundos nunca vistos de uma enorme fantasia. 

A música continua.



Por mais absurdo que seja um límpido céu azul claro surge do mesmo jeito, junto do chão. As ondas são feitas de papel também, seu movimento é falso e infantil. Figuras de marinheiros se desdobram do chão, o barulho de papel rasgando e dobrando é alto. Eram um bando de caras sujas e chupadas, homens brutos e que cantavam nas suas vozes aquela canção.

Por último, um homem alto se destacou do chão, com cara de poucos amigos. Estava vestido a caratér de capitão de pirata, saído diretamente de um filme desse tipo. Sua primeira ação foi puxar uma outra cabeça do seu pescoço, tomando o cuidado de dobra-la da maneira certa. Ele deu um passo for a frente e disse em voz de trovão.

- Sou Jano, capitão Jano. Vocês, crianças, estão no meu território agora. Não haverá luta, mas vocês hão de pagar um preço para passar de mim. Meus homens não serão piedosos. Nem eu. - Arrumou as vestimentas. - Bem vindos ao navio Dreadnought. - Os homens pararam de cantar e soltaram um rugio animalesco de alegria, para logo depois voltar a canção.

Todos eles eram formas bastante cartunescas.