HIPSTER DISLEXO

Amor Incandescente .

ELA sempre foi melhor que todas as outras, ELA sempre esteve ali.
Nas minhas alegrias e decepções, nos meus orgasmos e espasmos. ELA sempre esteve me observando de seu posto, sempre com ternura e sobriedade.
Me acostumei a ELA, seu brilho me confortava e seus repentinos sumiços durante a noite me angustiavam, me angustiava mais quando não podia vê-la.
ELA era meu referencial - meu porto seguro - minha pontinha de certeza de que tudo voltaria a estar bem.
Um dia, não muito diferente dos outros, ela não se iluminou como fazia todos os dias.
A LÂMPADA incandescente 220v do meu quarto tinha queimado, minha maior paixão se apagara pra sempre, meu porto seguro afundar, minhas esperança morrera.
Minha mãe prontamente a substituiu por uma moderna lâmpada fluorescente, ridícula. Quando perguntei o que deveria fazer com meu antigo amor, minha mãe disse:

- joga essa lâmpada fora menino

Não era tão simples abandoná-la, não o fiz, guardei-a.
E de certa forma, mesmo apagada, ELA nunca perdeu seu brilho. Dentro da caixinha de azevinho se tornou minha confidente e, consequentemente, minha namorada.
Eu beijava-a com todo ardor. Sabia que era anormal minha paixão por uma LÂMPADA, mas ela não era um simples objeto inanimado ela era vibrante, pulsante, esfuziante, encantadora. Estive cego de paixão por dias, nosso amor precisava ser consumado. Fomos as vias de fato, sabíamos que não teria volta, mas ELA insistiu - mesmo sabendo que ela não resistiria. Nossos corpos não se aguentavam mais, eu precisava penetrá-la e ela precisava ser penetrada por mim. O misto de dor e prazer esmaeceu cada músculo de meu corpo e juro que vi os filamentos DELA se reacenderem brevemente em um orgasmo. Como era de se esperar, seu frágil corpo se rompeu em milhares de caquinhos de vidro que cortaram as venículas de meu pênis enquanto penetrava seus filamentos de Tungstênio.
Após um breve tempo - confesso que não consegui segurar a ejaculação por muito tempo - estávamos completos, nosso amor ali acabara para se tornar eterno.
Pra sempre seríamos um do outro no plano imaterial/emocional, mas nos lençóis de minha cama jaziam nossos restos materiais que agora me enojavam: fibrículas de vidro revestido, transistors de prata e carvão, filamentos de tungstênio partidos, fios de cobre amassados, sangue venoso e esperma.

De fato, sobrou muito mais DELA do que de mim nesse mundo.