ego23

-Vostok! Eu posso te pedir uma coisa? Você pode nos levar para o ponto mais alto daqui? Eu quero ver este mundo de cima... Eu te pago com um amigo.

Rondeau diz, um pouco nervos■͉͇̤̼̞̤͘ͅ

Os próximos momentos são um borrão de cenas e sensações, você consegue sentir, mas não tem como explicar. Como se alguém estivesse deixando o tempo mais rápido de proposito, porque está mais interessada no que está por vir.

Dar tchau para Zenit. Voltar para a estação. Entrar no trem. Jogar conversa fora. Esperar.

Esperar.

Até que o trem para e o tempo volta ao normal. 

Vostok sai de sua cabine e vai até vocês.

- Chegamos, camaradas. O ponto mais alto! Vamos, me acompanhem. - Ele sai apressado do trem, cantarolando alguma melodia perdida na história.

Dessa vez não há uma estação de trem, nem trilhos, apenas o trem parado. Um vento frio toca o seu rosto e bagunça seus cabelos, mas não há como saber de onde ele veio, ou se ele veio de verdade. Você salta para fora do trem.

Você se encontra num campo verde, com algumas plantas e morrinhos. Ele se estende até onde a vista alcança, e talvez até onde mesmo ela não alcance, mas não há exatamente como provar isso. É a mesma historia para o céu, cheio de nuvens que nunca param de se mexer e pedaços meio transparentes que parecem não pertencer a aquele cenário, mas que se movem num conjunto convincente com as nuvens. 

As cores são tão brilhantes e vivas que te incomodam, parecem algo artificial que tenta demais imitar o real. Ou cores num pote de balas.

Vostok está parado e pensativo, olhando ora para a terra, ora para o céu.

-Vostok, o que são esses cubos gigantes e transparentes?
Rondeau diz, tirando de suas costas o que parece ser uma maleta de madeira ornamental presa por vários cintos, Rondeau põe ela no chão esverdeado e retira os cintos.


-Ah e antes que você pergunte, aqui está seu amigo.
Imediatamente a maleta começa a tremer, ela se alonga para cima como uma sanfona e varias partes de madeira começam a surgir através de um sistema de cordas e engrenagens que faz com que tabuas de madeira se conectem automaticamente, a mala agora havia tomado a forma de um bau de ferramentas, a parte debaixo da mala se desencaixa e então se abre sozinha, formando uma mesinha.


Rondeau estala seus dedos longos e delicados e começa sua profissão.

Ele pega um pouco de argila, couro e ceda, esculpindo rapidamente um corpo com a argila então cobrindo o corpo com couro e depois ceda, por ultimo Rondeau pega da caixa o que parece ser pó de gesso, misturando-o com água e esculpindo uma forma redonda para servir como rosto, Rondeau termina sua escultura e com uma furadeira de mão faz dois buracos para os olhos, Rondeau então põe a escultura sobre o corpo de couro com argila dentro, por ultimo Rondeau pega um pequeno espinho de metal e põe nas costas da boneca.


Em poucos momentos a boneca tem algumas convulsões, produz sons de algo se quebrando dentro de si, a boneca ainda deitada salta da mesinha e cai de pé sobre ela, chacoalhando a cabeça.


-...
A boneca permanece silenciosa, ela não é maior do que uma maçã, e seus movimentos são meio erráticos, as vezes sua cabeça treme um pouco.


-Olá! Seu nome é Geroy e você é amigo do Vostok, aquele robô ali.
Disse Rondeau apontando para Vostok, Rondeau estende sua mão e Geroy sobe nela sem dificuldade.
-Vostok, este é Geroy, ele adora cortar frutas e é ótimo pra se livrar de mosquitos mas é um pouco tímido.
Rondeau fala como se conhecesse a boneca a um bom tempo apesar de ter feito ela a menos de um minuto.

Vostok olha para o céu. - Não sei te dizer, mas, eu me sinto em casa aqui.

Ele percebe Geroy. 

- Oh, é mesmo para mim? Obrigado, Rondo! - Com cuidado, o condutor pega o boneco, pensa um bocado e o coloca no seu ombro. - Eu estava precisando mesmo de um segundo no comando! 

Vostok está bastante feliz.

Você acha que viu um dos pedaços transparentes tremer: Uma, duas, três vezes, até que o "acha" se torna um "tem certeza". O transparente se torna opaco. Uma série de conceitos começam a passar por eles, sem tempos definidos entre eles. Conceitos de alguma forma traduzidos em imagens. 

Spoiler:

 

Feixes de fótons de alta frequência se propagam em um cenário distante. Uma quantia ínfima de tempo é necessário até que meus receptores visuais possam se adaptar ao novo ambiente. Simples contrações são todo o necessário. Biomassa próxima continua produzindo sons irreconhecíveis. Irrelevante. Meus órgãos visuais focam-se no cenário distante novamente. Transtorno. Mudança. Padrões estranhos são seguidos por vastas quantias de data distante.

Pacotes de informação perambulam aos meus arredores. Desconexos. Incompletos. Incapazes de  serem captados por qualquer órgão receptor mas reconheciveis. Agressivamente invadindo meu lobo temporal. Nenhum significado exato pode ser obtido de toda a data.

Exceto uma coisa. Um mecanismo de identificação.
Individualidade. Quatro fonemas consecutivos são todo o necessário.



Laika.
Parece um bom nome.

-Então... É dai de onde vem os bebês? Huh uh.
Rondeau chacoalha a cabeça e pisca duas vezes, olhando diretamente para os cubos flutuantes, parece que Roundeau realmente não sabia deste processo.


-De quem foi a ideia de mandar um cachorro pro espaço?

Ryo acorda
sem cerimônia, Ryo parece apenas despertar, como se pelas ultimas horas estivesse caminhando enquanto dorme após o choque de ver a mão decepada e não se sentir real
Ryo estava dentro de sua irrealidade
mas agora lá estava, em frente a plataforma


"De novo?"

Ryo sai andando, procurando o que mais estaria nesta estação, seu rosto ainda vermelho

Ryo anda
Ryo quer um Band-aid

Assim que Ryo acaba de pensar, ela avista algo no chão a sua frente.

Ryo sorri


"Heh"

Tirando um band-aid da caixa e aplicando em seu rosto, Ryo sente tudo melhorar.
Seu olhar parece morto, mas está tudo melhor agora.
Se o frio metal da caixa um pouco enfurrejada não vingar, ou se a cola do curativo não parecer real, ela pode arrancar e aplicar outro.
Dor mantém a realidade.


"Agora..."

Deixando a escuridão e as sombras que se movem além da pequena caixo de band-aids para trás, Ryo anda calmamente de volta para onde os outros viajantes estão, Ryo está acordada.
Ryo quer mais da realidade.

A visita ao lugar mais alto cria mais dúvidas, ou, como Vostok havia previsto, desinteresse. Afinal, ver conceitos assim; desordenados, desdobrados e sem explicação é só uma ideia confusa e digna de experimentação ocasional. Por concesso geral, vocês retornam ao trem. 

O cheiro brando de mofo e naftalina, as almofadas desbotadas, a aranha no canto do vagão dorme a sono solto. Esses elementos repetidos acabam lhe dando um senso de rotina, por cima da colcha de retalhos que têm vivido.

A voz de Vostok ressoa da cabine do maquinista. - Camaradas, estou tomando a liberdade de escolher o próximo destino eu próprio, se me perdoam. - Ele dá uma pausa.  - É um lugar interessante. Interessante, é essa a palavra correta. 

- Interessante. - O maquinista repete a palavra, saboreando-a.

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O trem vai parando aos poucos. Ao descerem, vocês conseguem ver que a estação de trem dessa vez é bem arrumada, mas ainda pequena. Construída em madeira, ela é firme e resistente, e se você gastasse tempo o bastante pensando nisso, poderia imaginar um carpinteiro apaixonado pela sua obra trabalhando nela. Encaixada no telhado há uma placa branca, com "Levinskovsky" escrito em letras garrafais.

Vostok para para conversar com alguém que vocês imaginam que seja o guarda da estação. Ele volta e se dirige a vocês.

Ele começa a andar rente aos trilhos, na direção do que parece ser um borrão colorido de prédios, mas ainda artificial.