[Finalizado] The Best Creepypasta Contest

Pokaabu escreveu:

Algum subúrbio na África – Noite

- Mamãe, meu dente caiu.

O garoto entregou o dente a sua mãe.

- Quando foi isso garoto, por que não me avisou?

- Foi de manhã mamãe, desculpe.

Ela olhou o pequeno artefato em suas mãos

- Ókulu vai cobrar...

A mulher rapidamente colocou o pequeno pedaço de osso envolto em vários panos, depois o posicionou no centro do chão de terra batida do pequeno casebre. “Espero que ainda haja tempo” pensou. Ela e seus cinco filhos se encolheram em um canto da casa quando ela chegou. A porta se abriu em um rangido fraco e sua sombra se sobrepôs a luz do luar, usava um vestido negro e longo, em suas pontas ouvia-se o balançar dos dentes que pendiam sobre seus pés. A mãe dos meninos sentiu vontade de gritar, mas não o fez. A negra entrou em passos largos e lentos, em um movimento rápido como o pescoço ela descarregou seu olhar frio e gélido na mãe dos garotos, seus olhos eram pretos como o fundo de um poço sem fundo, sem emoção, sem vida. Ela andou até o meio da sala e recolheu os panos do chão os envolvendo em seu corpo, o tecido se desfez. O que sobrou foi o pequeno dente do menininho, Ókulu o engoliu. Depois do feito, a negra caminhou de volta a saída. Começou a chover. Ela caminhava em linha reta porta afora, um raio rasgou o céu. Ela sumiu.

Depois que seu dente cai, você o põe debaixo do travesseiro?

Algum bairro nobre dos Estados Unidos - Manhã

- Mamãe, meu dente caiu.

- Guarde-o em baixo do seu travesseiro, para a fada do dente trocá-lo por um maravilhoso prêmio.

- Que prêmio mamãe?

- Isso é surpresa, tenho certeza que você vai adorar.

Será?

O pequeno Tom estava muito feliz naquela manhã, ele iria ganhar um prêmio em troca de um misero dente. No parque um pouco mais cedo, quando havia dado de cara com uma árvore, ele entrara em pânico. Seu dente havia saído deixando no lugar um pequeno buraco em sua boca. Sem concerto, pensou. Mas quando sua mãe o explicou que outro dente nasceria no lugar e o outro seria trocado por alguma coisa boa ele ficou radiante. Não esperava à hora de chegar em casa e colocar seu trunfo em baixo do travesseiro. Mas não foi isso que aconteceu, seu primo cegou para uma visita com o seu novo super mega vídeo-game nas mãos e o garoto simplesmente esqueceu o que nunca deveria ser esquecido.

Chovia muito aquela noite e Tom não consegui dormir, os trovões transpassavam o céu com o som aterrorizante que a natureza sabe produzir quando realmente quer. Ele se levantou e caminhou até a porta do seu quarto, o corredor estava escuro quando a porta se abriu, mas ele continuou o caminho até o quarto de sua mãe. Foi ali no meio do caminho que ele ouviu. A porta de sua casa se abriu num rangido longo e espesso. Ele se escondeu dentro do armário da dispensa com uma fresta para saber quem era que o visitante inesperado, o garoto estava em pânico. Ókulu entrou na casa a passos muito lentos, seu rosto estava magro e o cabelo rastafári se erguia bem alto, seu vestido ornamentado pelos dentes ecoava uma melodia assustadora, um trovão ressoava no céu, os dentes balançavam, a melodia do medo.

Tom estava pálido, suava frio enquanto olhava a estranha mulher passear por sua casa. Ela parou no meio da sala, como se esperasse que algo acontecesse, foi ai que ele gelou. Os olhos da mulher se viraram imediatamente em sua direção, olhos de fúria e de raiva. Tom queria chorar, mas estava petrificado. A mulher contrariando a reação que o garoto esperava, sorriu. Sua boca se abriu por todo rosto, os dentes estavam um em cima do outro em três fileiras consecutivas, molares no lugar de caninos e vice-versa. O sorriso cessou. Ókulu caminhou até a porta do quarto onde a mãe de Tom dormia, abriu-a e calmamente adentrou ao cômodo. O garoto não ouviu mais nada depois disso. Quando a negra retornou a sala ela segurava em sua mão um colar. Um colar feito de dentes. Um raio iluminou o céu, a fada do dente sumiu.

Tom saiu do armário, seu calção estava todo molhado de urina, ele chorava e suava sem parar, andou até o quarto de sua mãe e o que o garoto viu o fez soltar um grito de terror. Sua mãe estava caída no chão, os olhos ainda lacrimejavam e sua boca aberta jorrava sangue, não havia mais nenhum dente.

Nunca deixe de colocar seu dente de baixo do travesseiro, ele sempre virá para cobrar, um dia, ela sempre vem.

Rush escreveu:

Três anos. Levei três malditos anos até conseguir uma prova concreta que eles existem... Eles... Aqueles que não têm um nome cientifico, e onde sua existência nunca fora comprovada. Isso destruiu minha família. Destruiu minha família num piscar de olhos, desde o nascimento de nosso filho... Miguel. Vocês devem estar confusos, não? Bem, eu também estava. Agora estou certo. Certo de que não há saída quando você entra nessa. Quando você finalmente percebe que eles existem de verdade... Não tem jeito. Você fica paranoico, fica louco, perde sua cabeça. Foi o que aconteceu comigo. Se estiverem lendo esta carta, por favor... Eu imploro que a divulguem, que mostrem a minha história. A minha história, e a de Harausay’me.

A primeira coisa que você deve perguntar é, que diabos de nome é esse, não? Deixe-me explicar tudo...

Meu nome é Christian, tenho 32 anos. Trabalhava num escritório com vários outros funcionários, investíamos em imóveis, mas isso não importa. Desde o nascimento de meu primeiro filho, Miguel, com a minha querida esposa Sheila, percebi que tudo estava um tanto... Anormal.

Ele, ao contrário dos bebês em geral, não chorou durante seu nascimento. Se não fosse pela sua respiração, os médicos teriam certeza absoluta que ele teria nascido morto, já que não havia nenhuma reação do pequeno. E assim foi até os cinco anos de idade. Quer dizer, não cresceu uma criança diferente das outras. Falava, brincava, chegava até ser tímido com pessoas novas. O que me incomodava, era sua obsessão em brincar enquanto conversava sozinho. Seus desenhos eram apenas rabiscos sem nexo, demorou em aprender a escrever.

No primeiro dia de sua escolinha, Miguel teve um trabalho simples e divertido, fazer amigos e desenhar um retrato de seu melhor amigo para apresentar para a classe. E na vez de meu filho, bem, ele apresentou um amigo seu, Harlashay. Um nome até agora novo para mim e para Sheila. O seu retrato foi feito com tinta guaxe e de acordo com a professora, todas as crianças começaram a chorar de medo. O que deixou Miguel bem triste.

Quando a professora veio me informar tal acontecido – além de indicar psicólogos e questionar tal feito. – eu fiquei perplexo. O desenho não parecia nada de uma criança de cinco anos. Era macabra, perturbadora... Eis a pintura:

Spoiler:

Briguei com meu filho, atormentado enquanto achava que era uma brincadeira de mau gosto. Dai que percebi que ‘Harlashay’ era um amigo imaginário, que Miguel insistia em dizer que era real. Isso foi um motivo muito perturbador para mim e minha esposa, o que causou Miguel indo a terapias com um psicólogo.

No final de tudo, ao invés de ajudar, o psicólogo deu um diário para o garoto. Pediu para que anota-se seu dia a dia, o que fazia, com quem brincava, aonde ficava.

E todas as noites eu ia escondido até o quarto do meu filho para ler o diário. Sempre com aquele frio na espinha em andar pelos corredores de casa a noite, coisa normal. O que me assustou, foram as anotações do garoto. Harlashay estava sempre presente em sua rotina, sempre o acompanhando, brincando com ele. Porém, o influenciava a fazer o bem para si mesmo, o que prejudicava algumas pessoas ao seu redor. Isso variava de roubar, mentir e até esconder coisas.

Seus desenhos de seu ‘amigo’ eram o que me assustava também. Um ser magro, sem olhos e nariz, magro, alto e corcunda. E de acordo ele, não existia apenas um, mas vários. Vários mesmo. Só em casa, pelo visto haveriam oito. E dois dormiam em meu quarto. Fiquei muito perturbado e briguei com Miguel no dia seguinte, dei uns tapas nele para a criança parar com essa esquisitice macabra. Sheila me repreendeu e eu acabei dormindo na sala. Aquilo não me impediu de ler o diário mais uma vez.

Resultado? Nenhum daqueles ‘seres’ imaginários gostava de mim. E agora pareciam ficar me seguindo, o tempo todo. O pior é que eu estava começando a acreditar, e ficar incomodado toda vez que estava sozinho. Logo, comecei a pesquisar na internet, né? A internet tem solução pra tudo, pensei eu.

Fiquei pesquisando por mais ou menos cinco meses, e nesse meio tempo, a situação do meu emprego estava crítica, tanto no trabalho como no relacionamento com minha mulher. Estava antissocial, paranoico. Até que encontrei um tópico num fórum, com um usuário chamado “Harausay’me”. Que pelo visto era um adolescente atormentado com tais criaturas da espécie de Harlashay. Inclusive que não conseguia mais dormir por causa delas, pois as mesmas ficavam paradas em pé, olhando para ele deitado.

Ele postou provas, desenhos, relatos... Alguns membros postaram suas experiências e alguns apenas zombavam da loucura do usuário. Nessa hora, eu tinha certeza absoluta que tais criaturas existiam, mas a maioria dos humanos não podia enxergar. E isso me deixava angustiado. Não podia vê-los, mas sabia que estavam lá. Toda vez que andava pelos corredores, sentia os corcundas dando passos tortos atrás de mim, me perseguindo, me observando.

Não conseguia dormir. Sentia os vultos parados ao lado de minha cama, apenas olhando para mim, encostando seus dedos deformados em meu rosto. Respirando em meu ouvido. Gemendo com seus dentes afiados enquanto mexiam suas cabeças, como animais.

Quando eu vi... Três anos já haviam se passado. Miguel, já com oito cometera suicídio com uma faca de cozinha. Minha mulher fez o mesmo, já que não conseguiu aguentar a perda de seu único filho. Eu já estava sozinho, quer dizer, quase. Com a companhia daqueles monstros asquerosos. Já não aguento mais.

Tudo que eu digo, é... Sabe aquele momento em que você caminha sozinho por sua casa, no escuro? Aquele momento em que bate um desespero em você em que alguém está lá, ao seu redor? São eles. São essas criaturas magras de braços cumpridos. Corcundas e sem olhos. Te seguindo, passando suas mãos com dedos e tortos longos acompanhados de unhas quebradas.

Não há como escapar, não há. Você podem não acreditar, mas no escuro, elas estão lá.

Fire Killjoy escreveu:

Delírios

A história a seguir é verdadeira, e ocorreu em West End, Londres. Quando noticiada no jornal, trouxe uma onde de bisbilhotice por parte da população sobre o que pode ter acontecido. A reportagem contava a história de Harry Louis Stevenson, um homem que se suicidou em seu apartamento no dia 03 de Outubro de 1998. Seu diário foi encontrado em seu quarto, e possuía relatos muito estranhos. O conteúdo acabou sendo revelado para a grande mídia, o que acabou trazendo grande curiosidade para algumas pessoas. Os principais pontos do diário você lê a seguir.

05 de Setembro escreveu:
Essa foi a data que minha amada noiva Judy morreu. Ocorreu um ano atrás, mas eu ainda não consigo me esquecer dela. Trabalhando como fotógrafo todos esses anos, tenho várias fotos de nós dois juntos. Hoje provavelmente não sairei de casa, estou infeliz demais para conseguir fazer qualquer coisa.

06 de Setembro escreveu:
Acordei hoje de manhã cedo com a estranha sensação que havia alguém do meu lado na cama. Eu pude sentir o calor de um corpo, além de um aroma muito parecido com o perfume que Judy usava. Só pode ser coisa da minha cabeça, estou sentindo tanta falta dela que acabo imaginando coisas.

09 de Setembro escreveu:
Passou a semana inteira chovendo, e hoje não foi diferente. Não suporto mais ficar em casa, mas também não acho apropriado ficar o tempo inteiro sem ir tomar um ar lá fora. Resolvi dar uma olhada na minha galeria, mas tive uma estranha sensação antes de entrar no quarto, e então resolvi desistir.

10 de Setembro escreveu:
Finalmente a chuva passou, não conseguia mais ficar trancafiado dentro do meu apartamento. Saí para dar uma volta, mas o dia ainda não estava claro, eu podia ver as nuvens turbulentas e cinzentas acima de mim. Resolvi voltar para casa.

11 de Setembro escreveu:
Não havia mais como fugir do que eu estava sentindo. A tristeza parecia estar tomando conta da minha alma, e a minha galeria parecia me atormentar como um inferno que eu nunca gostaria de ir. Resolvi finalmente entrar no quarto, ele estava todo escuro, e quando liguei a luz não notei nada de diferente. As fotos da minha bela noiva Judy estavam lá, mas não eram como deviam. Parecia que ela estava triste também, todas as fotos dela choravam para mim. Eu olhei ao redor para ver se havia alguma goteira no teto, mas não encontrei nada. As fotos continuavam a soluçar em amparos, eu não suportava mais. Fechei a porta e a tranquei.

12 de Setembro escreveu:
Aquilo que vi no meu quarto foi real ou apenas um sonho? Eu não estava mais ciente da minha sanidade. Eu não me sentia em meu apartamento, e sim em outro lado, como em um lugar perverso. Poderia ser depressão, o começo de uma depressão profunda. Procurei um médico, e ele me deu alguns comprimidos de Fluoxetina para tomar, dizendo que isso podia ser apenas nervosismo.

Até este ponto, muitos imaginaram que Harry estava começando a ficar louco. Segundo o ponto de vista e explicação de um médico:

O potencial para esta doença existe em todas as pessoas e, sob certas circunstancias, qualquer homem ou mulher seria levado, como ele, para o “outro lado”. O “outro lado”, entretanto, não deve ser o melhor meio de nomear isto. Inclusive, não há limites entre isso e aquilo. Fica nas fronteiras onde a realidade e o delírio se misturam. É um lugar fechado e distante. Sou um médico, e não um filósofo ou um psiquiatra, mas algumas vezes tenho que me perguntar sobre isso. É verdade que para nós não são nada além de uma mente conturbada. Mas para ele, simplesmente não há outra realidade.

Os relatos continuavam, e os devaneios de Harry ficavam mais fortes.

23 de Setembro escreveu:
Eu não consigo dormir mais, e os remédios não fizeram efeito. Agora que visitei o médico, parece que as coisas pioraram, como se eu acabasse relembrando tudo de ruim que aconteceu um ano atrás. Eu tinha saído do bar junto de um amigo, fomos direto para o parque, encontrar minha noiva. Judy estava nos esperando lá, e então a fatídica tragédia ocorreu. Um carro estacionou, e de dentro saiu um cara que agarrou Judy. Eu não consegui ver o rosto do homem, ele jogou Judy para dentro do automóvel às forças. Não pudemos fazer nada… As buscas pela minha noiva foram intensivas, mas ninguém a encontrou, nem um rastro do corpo. Também não houve suspeitas de quem fosse o sequestrador, nem de onde ele pudesse estar. Esse trauma, bem… talvez seja por isso que eu não me lembre o que fiz depois do ocorrido. Só sei que uma grande tristeza tomou conta de mim, e demorei a me recuperar.

24 de Setembro escreveu:
Visitei o parque onde Judy foi sequestrada. Talvez assim pudesse enfrentar o trauma. Vi algo que de relance que me fez gelar o sangue. Pensei ter visto Judy de relance, mas quando olhei melhor não havia ninguém.

25 de Setembro escreveu:
Vozes… eu comecei a ouvir vozes da Judy dentro do meu apartamento, gritando comigo de uma maneira assustadora: “Por que você fez isso comigo? POR QUÊ?” Em resposta eu falava que nunca a deixaria ir ao parque se soubesse o que aconteceria a ela.

Segundo os relatos dos vizinhos, Harry realmente gritava no apartamento, mas nunca ouviram uma voz feminina.

28 de Setembro escreveu:
Fui visitar meu amigo, o mesmo que estava comigo um ano atrás. Quando cheguei perto do prédio onde ele morava, encontrei uma multidão de pessoas, havia policiais também. Perguntei o que estava ocorrendo, e recebi a pior notícia do dia, meu amigo foi encontrado morto em seu apartamento. Tudo indicava que ele suicidou-se.

30 de Setembro escreveu:
Pensei, por um instante, se meu amigo não se suicidou por causa de Judy. Se ele estivesse sofrendo o mesmo que eu… bem, não sei se vou conseguir suportar essa estranha presença aqui em casa. Seria uma assombração? Não entendo porque Judy estaria nos atormentando com isso.

1º de Outubro escreveu:
Encontrei uma foto de Judy em cima da mesa da cozinha, não me lembro de ter deixado nenhuma foto dela ali. No verso estava escrito: “Em breve nos encontraremos também.”

02 de Outubro escreveu:
Meu encontro com Judy aconteceu na galeria, ela realmente apareceu para mim. Não fiquei assustado com sua presença, e sim preocupado. Ela chorava lágrimas que não acabavam mais, e seu corpo estava distante de mim, como se um estranho véu nos separasse. Judy revelou toda a verdade do dia 05 de Setembro para mim. Eu sou um monstro. Não consigo acreditar no que fiz…

03 de Outubro escreveu:
Eu matei Judy. Estava muito claro neste instante, e eu me lembrava de tudo. Meu amigo e eu fomos os responsáveis pela morte de minha noiva. Saímos bêbados de um bar e dirigimos até o parque para encontremos Judy como o combinado. Estávamos completamente fora de nós mesmos, agarramos Judy pelos braços, e a forçamos a entrar no carro. Ríamos que nem loucos. Loucos cheios de desejos, coisas ruins passavam em nossas cabeças, e Judy seria a vítima. Ela percebeu o que estava acontecendo, e não concordava em nada. Quando cheguemos ao meu apartamento, ela se debatia muito, disposta a nos contrariar. Fiquemos bravos, começamos a brigar, foi então que no meio da discussão, alguém mais exaltado pegou uma faca e… e matou Judy. Escondemos o corpo em seguida, em minha galeria, dentro da parede. Não sei como consegui ser capaz de uma crueldade dessas, eu simplesmente não mereço viver…

No mesmo dia o corpo morto de Harry foi encontrado em seu apartamento. De acordo com o boletim da polícia, Stevenson usou uma colher de sopa para furar seu próprio pescoço, acertando sua artéria carótida. Quando o encontraram, Stevenson havia morrido por perda de sangue, a colher estava perfurando duas polegadas de seu pescoço. Seu diário com as revelações foi encontrado, e o quarto da galeria foi revirado. A polícia realmente encontrou um cadáver quebrando uma das paredes. Segundo o laudo que foi feito, o corpo realmente pertence à Judy, noiva desaparecida de Harry.

Fusca escreveu:

Assovios

Tudo corria bem na vida de Ricardo. Com trinta e poucos anos, tinha uma saúde de ferro, uma bela esposa e uma pequena filha, de apenas três anos. Os negócios em seu restaurante iam bem, e ele dificilmente se estressava com algo. Ou pelo menos até aquele dia.

Uma sexta-feira chuvosa. Foi naquele dia que seu pesadelo começou. Ele não conseguiu dormir... Por causa dos assovios. Vinham de uma espécie de vegetação mutante, os restos mortais do que antes fora um manguezal, que se alocava em frente à sua casa. Mas não foi aquele dia, apenas. Por desventura, quarenta dias se passaram, e ele não havia dormido uma hora sequer. Se tornou um homem cada vez mais louco. Já não dava mais carinho à sua mulher, e perdera a paciência com sua filha e seus funcionários, agredindo-os com frequência. Estranhamente, ninguém mais ouvia os assovios. Apenas ele, que tentara de tudo: Cobrir a cabeça, dormir em outro lugar... Nada funcionou. Os assovios persistiam em sua mente. Procurou psicólogos, psiquiatras e outros diversos tipos de médicos. Nenhum conseguiu ajudá-lo... Foi quando ele passou de louco para obcecado, ou talvez os dois. Uma obcessão insaciável em encontrar uma solução. Pesquisas em bibliotecas, internet. Alguns dias depois de iniciar sua busca, Ricardo encontrou um texto, no mínimo, interessante:

Em meados do século 16, numa época cheia de escravidão e desgraça, uma garotinha vivia junto de seu pai, que era um fazendeiro. Tinha sorte de ter a sua pele branca. O contrário resultaria em trabalhar por toda a eternidade... Mas ela não ligava pra isso. Ela fez amizade com os filhos dos escravos de seu pai, e todas as tardes, se reunia com eles para assoviar. Era uma espécie de hobbie. E particularmente, o assovio da garotinha era muito belo. Porém, seu pai jamais apoiou aquilo. Um dia, enquanto ela dormia... O velho atacou a jovem com machadadas na cabeça. A menina ficou surda e ligeiramente demente, porém ainda estava viva. Um dia, ela fugiu da fazenda, e se escondeu na floresta. Alguns dizem que ela se tornou imortal, e perturba o sono das pessoas... Pois tem medo de dormir. Ser atacada, novamente.

Ele estava louco o suficiente pra acreditar nessa baboseira. Às 2:00 da manhã, quando todos dormiam... Ele pegou dois machados, que havia comprado de manhã, no dia anterior. Empunhou um em cada mão, e imprudentemente, saiu na calada da noite, seguindo o doentio som aéreo que ecoava em sua mente. Ele adentrou o mangue, e a partir dali sua mente se tornara ainda mais confusa. Ouvia diversos sons, e agora até via. Vultos, e por fim, os assovios ainda mais constantes. A loucura consumiu Ricardo, que agora descobrira ser algo insignificante no mundo. Caiu de bruços no chão, mas seu corpo jamais foi encontrado. Há quem diga que a garota o levou. Quando você não consegue dormir... São os assovios. Você pode não ouvi-los perfeitamente, mas eles tão sibilando em algum lugar na sua mente. Consegue ouvir este som?