A Liga Pokemon

- Prólogo -

Fazia frio. Um vento gelado percorria a ampla cúpula negra do estádio, rodopiando e gemendo. O campo, composto por um semicírculo rugoso de saibro vermelho, estava sendo usado naquele exato momento. Uma multidão sentava nas arquibancadas, aplaudindo e gritando incentivos para o mais novo treinador a chegar às finais da Liga.

Embaixo do pavilhão onde assentavam-se os espectadores, Bron enfrentava o atual campeão. Estava nervoso, tenso como um arco longo de teijo, mas sabia que podia vencer. No fundo, sabia.

Seu oponente era ninguém menos do que Antonov Vissarionovich, um homem grande demais para o seu tempo. Eslavo, rijo e cruel, treinadores evitavam esbarar no semblante negro de Antonov, e talvez fosse por isso que por dez anos o “quebra-ossos”, como era conhecido, permaneceu líder absoluto da maior competição de Pokemon do mundo; A Liga de Ouro.

Bron estava ali para quebrar aquele recorde, mas as coisas não iam muito bem. Seu Solagar encontrava tremenda dificuldade para repelir as investidas do monstruoso Raiphen, e estava ficando cada vez mais fraco. Sempre que tentava um contra-ataque era barrado pelos longos e curvos braços do adversário, que pareciam se alongar ainda mais a cada novo golpe. Ambos os Pokemon se digladiavam no centro da arena vermelha, para o delírio dos espectadores. Em tal combate formidável, cada pancada era disputada, cada movimento cuidadosamente pensado, mas a luta já se estendia por muito tempo, e naquele momento os dois treinadores já haviam partido para a luta franca. Raiphen parecia prevalecer, com seu tamanho animalesco e sua força anormal, mas nada estava decidido até o apito do juiz.

- Solagar, use o ataque de bico! – Ordenara Bron, a voz rouca e alquebrada, como a de um garoto.

Seu Pokemon prontamente ergueu-se num estampido, parecendo ter recuperado parte das forças. Num único golpe avançou com a cabeça ereta, disparando contra o peito de seu algoz, mas antes que pudesse fazer qualquer dano, lá estavam eles, os braços alongados de Raiphen, prontos para lançar Solagar longe, e foi isso mesmo que fizeram.

De repente era o Pokemon de Bron quem agora sofria. Raiphen erguera o oponente e o rebolara como se fosse um saco de bosta, tomado por uma fúria que assustara até mesmo a intrépida plateia. Foi assim que o combate terminou, sem mais nem menos. Num instante estava Solagar estirado no chão, sem forças, o corpo imóvel e fatigado, exaurido ao máximo.

Bron tinha lágrimas nos olhos, e Antonov gargalhava sonoramente, com aquela sua voz gutural que mais parecia o rimbombar de um trovão.

- Próximo! – Anunciara o narrador, nem mesmo esperando o oponente derrotado retirar-se do campo.

Bron era apenas um daquela enorme fila que esperava para enfrentar o quebra-ossos. Um dentre tantos. De repente sentiu frio, as juntas se contraíram e o esqueleto enregelou-se até a ponta dos pés. Parecia mesmo que Antonov havia-lhe moído os ossos.

- Quebra-ossos, de fato. – Murmurou, arrastando-se em direção à saída, com a cabeça pesada e os ombros fracos carregando o lento fardo dos derrotados.