Plasma Exilium: O Renegado

- Então... É verdade o que dizem?...
- Sim, senhora... Desde o princípio.
- Agora compreendo porque Harmonia quis me manter alheia a tudo isso...

Opala sorriu tristemente, seus lábios estavam sem cor. Seus cabelos de fios platinados, esparramados pela cama, não ocultavam os desenhos cansados e sem vida de sua face sofrida. Sua pele estava pálida e fria como a cera de uma vela, e em breve, a sua chama também deixaria de brilhar...

- Como está o pequeno Natural?
- Ele vai bem, não se preocupe... Mas meu pai insiste em chamá-lo de N.
- Pobre criança... Ele só tem dois anos. No entanto, meu amado Nova, ele não corre mais perigo que você mesmo nessas contraditórias circunstâncias...
- Do que está falando, mãe?

O Sol entrava com força pelos altos vitrais do quarto. Em uma grande e majestosa cama de lençóis cor de carmim, Opala dava seus suspiros finais de vida... Desejava falar com o filho mais velho, que apesar da censura do pai, visitava-a sempre que possível. Desde o início de sua criação, Ghetsis proibia terminantemente que Nova pudesse falar com a mãe - mas constantemente esta regra era quebrada, pois as babás Anthea e Concordia ajudavam sempre que podiam nos encontros de mãe e filho...

Mas isso tudo acabou quando seu segundo filho, Natural Harmonia, nascera dois anos atrás. Opala foi afligida por uma poderosa febre pós-parto, da qual nunca conseguiria se recuperar. Por alguma razão, o perigoso segredo que Opala guardaria até a maturidade de Nova havia sido descoberto... E ela precisava alertar o filho sobre este perigo.

- Nova... Eu quero que você escute bem o que vou dizer.

Nunca Nova tivera os ouvidos tão atentos em toda sua vida. Aproximou-se de sua mãe, ouvindo as palavras marcantes do seu leito de morte.

- Eu quero que fuja... Fuja para muito longe, e não pense em voltar nunca mais. Deixe tudo para trás: seus bens, sua vida, tudo será passado. Você não pode mais pertencer à aliança Plasma.
- Mas mãe, do que está falando? - Nova nada entendia - O castelo é meu lar, a aliança Plasma é a minha família! Carrego uma grande responsabilidade em mãos, sou o herdeiro legítimo do trono preparado para mim!
- Você não tem família, Nova. Ghetsis não é seu pai.

Uma navalha tênua e invisível é apunhalada no peito de Nova. Não podia ser verdade... Em seus dezoito anos de vida, tudo o que aprendera, batalhara para conseguir, aqueles que amava e conhecia, era tudo uma farsa? Uma mentira?

- Mãe, não pode estar falando sério! - Nova apertava os olhos, ardendo em choro, derramando lágrimas espessas no grosso cobertor.
- Olhe para você... - Opala disse, com os olhos cor de água fitando seu amado filho, cada vez mais vazios e menos fixos - Sua pele queimada, seus cabelos da cor do marfim... Posso sentir os pelos grossos em seu queixo, Nova. São consistentes como os do seu verdadeiro pai...
- Mãe... Mãe, por favor! - Nova foi interrompido.
- O olhar em chamas do meu verdadeiro amado... Está tudo muito claro, Nova. Você deve procurá-lo, é o seu direito.
- Mãe... Porque? - ele segurou a mão frágil, de dedos frios e sem vida de Opala - Porque nunca me contou antes?...
- Eu pretendia contar. Contaria, e deixaria você viver normalmente... Mas se tudo o que você me diz é verdade, se são esses os planos do meu marido... Eu não posso deixar que corra mais risco de vida, Nova. Você precisa partir.
- Porque risco de vida?
- Ghetsis é um homem ganancioso e cruel, cheio de escuridão no coração... Ele já sabe que você não é o legítimo filho dele. N, sim, herdará o trono da aliança Plasma e se tornará o senhor de todas as coisas. Ghetsis não falhará com N como falhou com você... Nova, você precisa fugir! Só Arceus sabe o que ele fará quando ele decidir tomar uma atitude sobre o que fazer com você!
- Mãe, não se exalte! Eu vou pensar no que fazer... Eu prometo, vou procurar meu pai e resolver essa situação, vai dar tudo certo! - ele tentou sorrir para tranquilizar a mãe, mas sua ingenuidade apenas a deixou ainda mais ansiosa.
- Pois quero que você procure seu pai de verdade, Nova!... - debaixo das cobertas, Opala retira uma espécie de talismã: um colar adornado com sementes e uma pena de Braviary shiny, azulada como a lapis lazuli - Torne-se um treinador. Entre para a Liga Pokémon. Só assim poderá ter alguma chance de descobrir seu verdadeiro pai...
- Não posso virar um treinador pokémon, mãe! É contra esse tipo de gente com a qual eu lutei a vida inteira! - Nova esbravejou.
- Tudo o que você acreditou ser uma vida não tem significado algum, Nova... É tudo uma mentira, uma farsa. Se é desejo do seu pai usar N para dominar este mundo, não há mais nada que eu possa fazer para impedir. Mas a você eu posso salvar...

Das sombras do quarto, três vultos misteriosos erguem-se do breu completo. Eles se aproximam de Nova numa velocidade alucinante, como se seus corpos trajados de negro não pesassem um grama. A Shadow Triad, os vassalos da aliança Plasma, agora cercavam Nova e o encurralavam contra a cama.

- Você não tem escolha, meu filho... Por favor, faça o que eu lhe peço.

Sua mãe, tão jovem, estava morrendo diante de seus olhos. Nova tinha o coração despedaçado em mil partes, contraindo a testa e o queixo enquanto desabava em lágrimas. Um Shadow Triad o agarrava por trás, impedindo que Nova caísse no chão. Nova ergueu a cabeça e olhou longamente para sua mãe, Opala, que continuava a sorrir para ele apesar de todo o seu sofrimento... Uma lágrima caiu de sua bochecha branca.

Não era uma escolha. Nova cumpriria o pedido do leito de morte de sua mãe: por ela, e por ele.

- Eu te amo, mãe... - ele sussurrou.
- Eu também te amo, meu filho... - e ele se aproximou, beijando-a longamente na testa e envolvendo sua cabeça em seus braços musculosos - Adeus, meu amado... Estarei sempre olhando por você. Sempre.

Lentamente, a mão de Opala escorreu pelo braço do filho conforme ele se distanciava. Seus olhares ainda estavam conectados. Quando finalmente separados, a Shadow Triad pôs se a fazer o que fazia de melhor: ocultar-se na escuridão e reaparecer do nada como fantasmas, garantindo a segurança do jovem rapaz que prometeram proteger. Nova não sabia, mas apenas ele poderia impedir os planos vis que seu pai arquitetava para manipular seu irmão e todo o planeta, a sequencia de acontecimentos cataclísmicos que definiriam o rumo de Unova e da humanidade.