Ipsen - O Efeito Etéreo.

por CoxaSobreCoxa Qui 3 Abr 2014 - 20:42

Notas do Autor:

Capítulo 1 - Despertar! Novo Mundo!

Quase dormindo eu estava, enquanto uma leve chuva colidia contra a janela. Não tinha nada de interessante para fazer naquela escola, a revisão de horas que o professor estava passando era sobre a matéria que eu mais entendia, biologia. Quando o tédio chegou a um nível alarmante, eu comecei a olhar para o céu e de cara notei o esplêndido espiral que as nuvens formavam, elas eram densas e cinzas e se convergiam em um único ponto vazio no céu, que parecia um buraco negro que estava prestes a sugar toda existência na Terra. O sinal ensurdecedor do intervalo tocou. Aquela cambada de mamutes escolares saíram pela porta e começaram a descer as escadas, tentando sempre fazer o máximo de barulho possível. Finalmente eu estava sozinho, no doce silêncio da sala vazia, agora eu poderia dormir tranquilamente... Dei uma última olhada para o céu antes de dormir, e mal sabia eu que seria a última olhada da minha vida para aquele mesmo céu. Notei um brilho suave vindo daquele buraco, no começou pensei que era só um fenômeno desconhecido da natureza, porém ele se intensificou rapidamente, tornando-se uma enorme luz abissal. Parecia que um gigantesco cometa ia colidir com a Terra e em um ímpeto eu levantei-me para começar a correr, quando me dei conta, percebi que meu corpo tinha entrado em combustão. Olhei em volta de mim e percebi que só eu estava queimando. Minha visão começou a ficar embaçada e meu corpo ficou fraco. Eu caí no chão, e tudo começou a ficar lento e calmo...

Eu estava em uma piscina infinita onde não existia luz, som e vida. Não sentia nada, apenas que eu estava caindo. Era um lugar totalmente escuro, profundo, vazio e sinistro. Meu corpo afundava lentamente em direção ao chão. Aos poucos, comecei a sentir meu sentido do tato voltar e percebi que meu corpo se encontrava deitado em uma superfície dura e gelada. Eu queria mexer-me, abrir os olhos, gritar, porém não conseguia. Meu coração começou a pulsar. Minha audição foi voltando e então comecei a ouvir vozes. Várias vozes, como se tivesse uma multidão ao meu redor. O controle do meu corpo foi voltando, chegando ao ponto de conseguir abrir os olhos. Minha visão estava extremamente embaçada. Consegui enxergar o sol batendo no meu rosto e as vozes que eu ouvia foram se tornando cada vez mais audíveis. Eu esperava acordar em uma cama de hospital, ou no meio da sala de aula, todo ferido, porém não. Quando me dei conta, eu estava deitado no chão de um lugar estranho com um monte de desconhecidos me olhando. Entrei em desespero e tentei levantar-me, porém com meu corpo fragilizado o máximo que eu consegui foi sentar, consegui distinguir uma única fala do burburinho da multidão. Foi algo do tipo: "Precisamos de ajuda! Chamem o Sr. Hoen!"

Sem entender nada, eu tentei levantar-me novamente, porém meu corpo ainda estava fraco. Todos os cidadãos tinham vestimentas diferentes das minhas, parecia que eu tinha voltado para a época medieval. Minhas roupas estavam rasgadas e queimadas, como de uma pessoa que acabara de voltar da guerra. No meu pulso direito tinha uma cicatriz bem avermelhada no formato de uma lua crescente. Uns me olhavam com dó, outros me olhavam com repulsa. As pessoas foram dando passagem a um senhor que deveria ter uns sessenta anos de idade. Ele tinha um grande e cheio bigode branco. Bem servido de barriga e vestido socialmente, esse idoso vinha ao meu encontro (deduzi que era o Sr. Hoen). Ele tinha uma cara gorducha e avermelhada, parecia ser aquelas pessoas super legais que adoram bater um papo. Ele esticou a mão para eu levantar-me e começou a falar:

- Bom, antes de mais nada, poderia dizer-me o seu nome? - Sr. Hoen perguntou. Eu respondi que me chamava Jota e então ele continuou. - Bom, eu sei que você deve estar muito confuso para saber o que está acontecendo e porque você está aqui, certo? - Ele perguntou e eu só balancei a cabeça dizendo que sim. - Venha comigo, que explicarei tudo o que aconteceu.

A multidão já tinha sido dispersa e nós começamos a andar. Apesar das minhas roupas estarem rasgadas e com as bordas queimadas, meu corpo estava intacto, só meu pulso que tinha uma cicatriz, porém ela não doía. Andamos por uns dez minutos até chegarmos em uma praça, onde tinham vários bancos e cadeiras. Sentamo-nos e então comecei a falar.- Sr. Hoen, certo? Onde estou? Como vim parar aqui?

- Bom, Jota... Você está na cidade de Arunafeltz. O que aconteceu com você foi um fenômeno que demos o nome de Efeito Etéreo. Basicamente seu corpo entrou em combustão, fazendo com que sua matéria física fosse realocada de sua dimensão para esta. Centenas de pessoas foram alvos desse efeito e aqui chamamos eles de Caídos. Como essa cidade é um grande ponto comercial, automaticamente ela é bem diversificada, não tem tanto preconceito contra Caídos, porém na visão do mundo afora, você encontrará sério problemas se deixar essa cicatriz à mostra, portanto esconda-a. Existe um grupo de Caídos chamado Tropa de Steins, eles trabalham na pesquisa desse fenômeno que os trouxeram a este mundo. Tenho certeza que eles terão respostas para as suas perguntas. Aconselho que você procure-os. - Sr. Hoen dizia enquanto tirava um mapa amassado do bolso.

- Tropa de Steins... Como faço para me encontrar com esse pessoal? - Perguntei.

- Bom, eles se encontram do outro lado do mundo no momento e dentro de nove meses, eles se instalarão na cidade de Blumardia. - Disse o Sr. Hoen enquanto apontava o lugar no mapa. - Você deve esperá-los lá, mas antes disso você precisa se tornar um soldado. Pois se continuar com o corpo fraco de um humano comum, não aguentarás nem dez minutos lá, portanto eu te matricularei em uma academia de sua preferência. Isso a gente conversa quando chegarmos no Hall. Você vem comigo?

- Como assim soldado? Eles querem que eu lute? Lutar contra o que? - Perguntei indignado.

- Bom, não ache que esse mundo é igual ao mundo em que você vivia. Os humanos não são a espécie dominante nesse planeta. Aqui é como um mundo selvagem e hostil. Você vai precisar lutar para sobreviver, além disso, como você acha que vai ganhar dinheiro futuramente? E então, você vem ou vai querer morrer sem saber de nada?

- E-eu irei...

Os medos e angústias que tinham no meu coração, ainda existiam, porém a curiosidade para descobrir a respeito daquele mundo era maior do que qualquer coisa.