[Gameplay] Second Wind

— Não acho que você teria conseguido, ein. 

Nex então se lembra que ela havia pintado o cabelo e estava maquiada. 

— Oh sim. Eu sou a Nex. Eu usei Silver Beast na noite passada. Nós trocamos tapas. Está lembrado?

— De qualquer forma...

— Você teria fogo ou não? Realmente estou com vontade de fumar agora.

Após ela ter finalmente se revelado, Kazuo conseguia ver os traços da jovem da noite passada no rosto e no corpo dela. Assim que percebeu, ele colocou a mão atrás da cabeça



- Aaaah, desculpe pela pergunta, você sabe como é, você me chamou pelo nome e tudo ma-...

Foi ai que ele percebeu os traços de drogas pelo corpo dela. Os vestígios de pó em suas narinas seguidos pelo rastro de sangue que já estava seco no rosto da jovem. Olhou para seus dedos, que ainda tinham poucas sobras das ervas de maconha, provavelmente pequenos fragmentos que entraram em suas unhas durante o preparo do baseado, de sua boca saia um cheiro que também era conhecido pelo garoto. Ele fechou instantaneamente a cara, lembrando do que ela tinha feito antes com o pequeno recipiente. Era um tolo por achar que era um saco para ajudar em sua respiração, ela não precisava mais respirar.



-... Me dê isso.

Kazuo invade o bolso da Nex sem hesitar, e tenta tirar o saco que estava lá.

— Sai, caralho!

Nex empurra Kazuo com uma das mãos enquanto defendia o bolso com a outra.

— ...!

- Senhorita, me entregue isso imediatamente.

Kazuo estendeu sua mão até ela, aguardando ela entregar o saco que estava em seu bolso



- Nós dois sabemos o que isso faz. Me dê esse saco!

— Nós dois sabemos o que isso faz e nós dois somos capazes de cuidar de nossas próprias vidas. 

— Ou o que podemos chamar de "vida". 

— Mas não, Sasaki-San. Não irei te entregar isso. Atualmente é a única coisa que me dá a sensação de continuar viva. Eu não tenho nada a mais a perder e você sabe que não irei morrer de overdose. Somos undeads, não é como se isso fosse causar um estrago maior do que ser explodida até a sala da AI. 

— Não sabia que você havia feito Proerd.

- Aposto que está surpresa por isso, não é? Isso não faz nada além de trazer desgraça pra tudo. Eu sei que eu não entendo nada do que você está passando, mas eu também não pretendo deixar você destruir o que resta de você com isso. É isso mesmo, eu sou um intruso na sua vida e você pode não dar a mínima pra isso, mas eu não vou virar um olho cego pro que você está passando agora.

Kazuo fechava os olhos e respirava profundamente.



- Nós não nos conhecemos, nós não somos afetados por esse tipo de efeito facilmente, e pra piorar, você não tem um rumo pra sua vida, não é? Então, eu tenho uma proposta. Torne-se um de nós, Nex. Torne-se minha e busque um novo caminho. Talvez possa não parecer viável agora, talvez possa doer por agora, mas se você jogar essa sua segunda chance pela janela, talvez você nunca consiga se redimir com os mortos, sem possibilidade de encontrar a paz... E isso não é algo que eu quero que alguém como você passe. Eu vi o jeito cuidadoso que você tratou Kenta, sua disposição para ajudar todos nós... Nós.. Não, eu não vou deixar você se destruir desse jeito.

Nex mordia o filtro do cigarro que repousava em seus lábios. 

— Você está certo. Nós não nos conhecemos. 

— E que diabos? Você não fala nada com nada. Você quer fingir que se preocupa comigo apenas para me foder? Quer aproveitar-se da minha vulnerabilidade para se dar bem hoje a noite? Isso não te torna menos babaca, seu babaca. 

— Eu realmente achei que você fosse um cara legal... Mas pedir para que eu seja sua?

— Qual é teu problema, porra? 

Nex retirava o saquinho plástico do bolso e levava até o nariz, dando uma fortíssima fungada que inalava todo o pó que restava lá de dentro, o esvaziando em segundos. De maneira brusca, ela batia a sua mão com o pedaço de plástico no peito de Kazuo e em seguida se afastava, fazendo com que o saco caísse nos pés do undead.

— Aí está, fiscal de droga. Faça bom uso.

Nex então se vira e começa a caminhar em qualquer direção que fosse fazê-la se afastar de Kazuo.

Aiko encara a mulher nos olhos por alguns segundos, ela então abraça ela.

- big sis alpha is very cute and nice, i'll gladly go with you! but please, don't forget about my family... they'll be worried if they don't find me...

Kazuo estava confuso por um segundo. Ele não entendia o porque ela estava tão nervosa daquele jeito, e só ficou a observar ela fazer o que queria. Depois de ter finalmente se tocado, o rapaz se perguntava quem realmente tinha se drogado ali. Ele suspirava, colocando uma mão para cobrir parcialmente seu rosto. Aquele tinha sido um dia realmente cheio parar ele.



-... Espere. Eu peço perdão, eu devo ter me expressado mal. Eu acho que eu devo me apresentar direito antes de fazer esse tipo de proposta.

Ele colocava as mãos na cintura, anunciando seu nome



- Eu sou Sasaki Kazuo, lider dos Kawakami. Você veio da zona da fé, correto? Então deve ser conhecida de Bash, não? Era ele quem protegia aquele lugar. Eu tenho certeza que se nossas posições fossem invertidas,
Bash também tentaria recrutar os sobreviventes do lugar que eu protejo. Eu não estou tentando flertar, eu estou pedindo pra ser um de nós, nem que seja temporariamente.

Nex parou de andar ao escutar o pronunciamento de Kazuo.

—... Kawakami?

 Ela se aproximou com passos pesados e rápidos, de maneira hostil. Kazuo pode perceber que o braço direito de Nex começava a tremer como se estivesse convulsionando de maneira diabólica, até que Hunter se manifestasse nele. Mesmo em lugar público, Nex apontou Hunter em direção do rosto de Kazuo. 

— Nunca mais se compare ao pai de meu filho, entendeu bem?

Em seguida ela abaixou o seu braço e Hunter pareceu se dissipar. 

— Onde é a sua sede? É melhor você me mostrar. 

— Presumo que você esteja com sua famosa moto?

- Assustador, assustador. Entendo, então Bash era seu... Hm....

Kazuo decidiu não falar mais nada e só entregar para ela o capacete que Juliet usou anteriormente, andando lentamente até sua moto.

Após entregar o seu telefone de contato para o pessoal da sala de reunião, Kenta recusa a oferta de Kazuo e se retira do estabelecimento, afinal não tinha porque ficar muito tempo enrolando lá. Kenta também não sabia onde estava, além de não querer retornar para casa e ver sua família preocupada e até decepcionada com as atitudes do garoto. Então Kenta começa a caminhar sem rumo, atraindo os olhares das pessoas nobres e ricas que passavam pelas ruas. O jovem mal sabia onde estava, mas ele não se importava, ele não se importava com nada que acontecesse com ele, a sua mente estava quebrada e precisava se selar, para manter a saúde mental do garoto no lugar.

Porém o rapaz não se aguentava, seus pensamentos eram incontroláveis. Ao caminhar ele tropeçava ou estava calambeando, apenas recordando do trágico fato passado. Ele se sentava na calçada, apoiando-se na parede e enxugando suas lágrimas, pensando na família que o valorizava, mas ele não conseguia pensar nela no momento, e isso fazia ele se sentir mais merda possível. Ele tinha pessoas que se preocupavam com o seu bem estar e com a sua vida, e a adorável Esther, vem a mente do Kenta. A menina com uma visão tão inocente, que poderia ser facilmente quebrada pelas Shadow Bodies ou pelo mundo, assim como Kenta foi quebrado, e assim ele sentia raiva e tristeza. Ele chorava e batia repetidamente o seu punho na sua testa. Como ele poderia ser um herói da justiça? Que ideia mais boba foi essa que ele teve? Ele não conseguiu nem a proteger a si mesmo, como ele protegeria a sua família contra Kazuo, ou protegeria a adorável Esther e Aiko dos males do mundo?

Kenta não conseguia enganar a ninguém, nem a si mesmo. Tudo o que ele queria voltar a ser feliz. Deixar de lado a ansiedade e o medo, deixar a mágoa e a ferida se fechar de uma vez, ele queria um futuro brilhante para todo mundo e para si mesmo. Mas ele não tinha nada disso, ele apenas havia feridas que permaneciam abertas, medo e ansiedade constantes e um futuro incerto, que provavelmente resultaria em sua morte. Além de tudo isso, ele agrediu uma pessoa, que não havia nada a ver com isso, que herói da justiça de meia boca é esse? Na real, isso não era herói nenhum, era apenas um dos lixos que Kenta mais odiava, ele não havia percebido, mas ele se tornou o que ele mais odiava, um lixo humano, que apenas brigava em ruas. Como que tudo isso aconteceu? Talvez tenha sido depois daquela madrugada, ou talvez tenha sido um processo muito antes dele ter morrido.

Perdido no choro e raiva, ele volta a caminhar, mas dessa vez se dirigindo para casa. E chegando em casa ele é logo recebido por sua irmã extremamente furiosa, que fazia uma careta ao ver o estado do menino e o cheiro que ele emitia, além da camiseta manchada de vermelho.

- ONDE VOCÊ ESTEVE?!

Kenta estava mentalmente exausto, ele não conseguia falar nada, mesmo se ele quisesse. Um homem ameaçou matar sua família, inclusive a sua irmã que estava a sua frente, e ele não fez nada, ele não quis fazer nada. Então Kenta só ficou parado olhando para o nada.

-...

Ele apenas ficava lá... Até inesperadamente receber um tapa de sua irmã.

- EU TE FIZ UMA PERGUNTA.

Kenta estava surpreso, ele não sabia como reagir, o tapa não chegava machucar fisicamente, mas internamente doía muito mais do que ele pensava. Mas Kenta ainda não conseguia falar nada. Então ele recebe outro tapa. E então outro tapa, que logo viram socos no peito do menino, cada vez mais fracos a cada batida.

Até sua irmã cai de joelhos no chão, cobrindo suas lágrimas, com as suas mãos.

- Quem é você? Você não é o meu irmão, traga ele de volta, traga ele de volta...

Essas palavras ecoavam na cabeça de Kenta, uma vez em toda a sua vida ele se colocou no lugar da sua irmã. Imaginem viver uma vida inteira, com um irmão carinhoso, sensível, sorridente, sarcástico e brincalhão, e da noite pro dia o seu irmão já não era o mesmo, era uma gosma assustada e ansiosa, que simplesmente não parava de chorar, que não conversava, que escondia fatos, que mentia, que não era a mesma de sempre. No começo tu sente dó e pena, mas depois se torna raiva com a justificativa de porque ele não volta a ser quem era antes, logo? Kenta estava arrasado.

Já escutaram uma frase: "Um vaso quebrado nunca mais será o mesmo, mesmo que todos os cacos sejam colados, as rachaduras ficarão então nunca deixe o vaso quebrar..."?
Kenta sabia que ele nunca se recuperaria completamente, e mesmo que um momento suas feridas curassem, ele já não seria mais o mesmo irmão de sempre, ele não seria mais ele.

Como uma reação Kenta corre para o seu quarto e tranca a porta, antes que seu pai o visse. Ele abre o seu guarda-roupa e se olha no espelho.



Quem é você? Quem sou eu? Sim, quem somos nós? Nós nunca fomos, afinal eu sou eu. Sim, e eu sou você. Você é quem? Eu sou eu... Não, você não é eu... Sim eu sou, sim eu sou, sim eu sou, sim eu sou, sim eu sou, sim eu sou, sim eu sou...

Se você pensou que isso era Kenta conversando consigo mesmo, você está absolutamente incorreto. Eram as vozes que cochichavam no ouvido do pobre garoto, que tampava suas orelhas do som externo. Eram ruídos imaginários que atordoavam a mente do garoto, que começavam a contar e falar coisas. Eram vozes que ele conhecia e eram vozes desconhecidas. A sua realidade distorce, e Kenta se vê sem um rosto.



Ryouchi Kenta estava morto. Undeadman estava morto. Então quem é que estava "vivo"?

Hibiki estava alí o tempo todo e ouviu o que precisava
Na proxima missão ele talvez fale com Kazuo
Deixar os seguranças esperando não faria bem, já estava um pouco tarde. A qualquer hora o telefone tocaria
E algumas horas depois, todos iriam se ver de novo
Um paciente jogo de xadrez