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Oversoul - O Renascer dos Heróis

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Oversoul - O Renascer dos Heróis Empty Oversoul - O Renascer dos Heróis

Mensagem por RESPAWN Seg 30 Jul 2012 - 0:57

Oversoul - O Renascer dos Heróis Fjvy4

O homem é capaz muito mais do que os sentidos revelam. O planeta Terra não se limita até onde os olhos vêem, desde o Sol além do horizonte ou o globo azul do espaço sideral... O mundo está cheio de diferentes frequências, esferas espirituais compartilhando o mesmo espaço, onde a vida assume diferentes graus de densidade - nas quais os homens, por meio de suas vibrações espirituais, podem sintonizar-se com estas frequências como as antenas de rádio.

As primeiras civilizações procuraram na natureza a sabedoria do engrandecer espiritual, para assim dominar o ambiente hostil que as cercavam. Encontraram nos espíritos anciões da Terra o entendimento sobre este meio, vivendo em harmonia em suas comunidades e os biomas que compartilhavam com criaturas da terra, água e ar. Através dos séculos, a raça humana traçou seu caminho rumo ao progresso e muitas nações abandonaram a crença em seus espíritos da natureza, sobrepujando sua existência ou até acusando de heresia.

Esferas de espíritos humanos surgiram e se fortaleceram, conforme os homens passam a procurar neles mesmos a elevação espiritual - de boa ou má índole, não só esquecendo seu papel na natureza, mas também depredando-a como lobos famintos nesse processo. Poucas tribos e etnias perpetuaram suas crenças na harmonia com a natureza e na preservação da identidade cultural: sendo parte do meio-ambiente, foram igualmente prejudicadas conforme a ganância do homem capitalista o distanciava de suas raízes.

Frágil e ignorante, o homem buscava apenas na espiritualidade a sobrevivência em seu meio. Hoje, ele busca nada mais um crescimento espiritual individualista. Mas ainda há esperança...

A esperança se renova como a própria vida, pois cada geração que surge é melhor que a anterior. Um mundo melhor em breve surgirá.





Oversoul - O Renascer dos Heróis VKHw1


Komba, o Leão de Uganda
Minga, o Lobo Cinzento Oversoul - O Renascer dos Heróis New

Oversoul - O Renascer dos Heróis A1RZC


Oversoul - O Renascer dos Heróis 7TFfq

01. Pedro, o Coração do Leão
Prólogo
1. A Prisão Mediúnica
2. Surge Komba, o Leão de Uganda
3. O Fugitivo Oversoul - O Renascer dos Heróis New

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Crônica de Pedro, o Coração do Leão
Prólogo


Oversoul - O Renascer dos Heróis Xsf2r

Spoiler:


E com um estalar de dedos, Pedro despertou de seu sonhar acordado.

- Pedro! – era a voz de Tarek, chamando-o para a realidade num sussurro sorrateiro, sentado ao lado de sua carteira na sala de aula – Você tá bem? Fica mais atento na aula!

O rapaz esfregou o rosto, espantando o cansaço dos olhos escuros enquanto emergia de volta para a realidade. Tem andado muito distraído recentemente, e não sabia dizer se algo em sua rotina havia mudado ou se as aulas no ensino médio estavam ficando realmente chatas... Viu um quadro branco preenchido por palavras e formas desenhadas pelo pincel azul, sem se dar o trabalho de entender o que havia perdido.

Não conseguiu lembrar-se do que o fez se desvencilhar da vida real, mas nada que precisasse ser exatamente envolvente demais para fazê-lo perder o interesse naquele assunto massivamente desinteressante...

- Pedro? – Tarek o chamou novamente, uma vez que o amigo ainda não tinha os pés no chão. Este olhou em sua direção, e assim pôde concluir sua sentença – O que houve?
- Nada, nada. Só viajando, mesmo... Cara, esse assunto é muito chato!
- Você tem ficado muito no mundo da lua. Se continuar assim, terá dificuldades de entender o assunto e vai ter seu estudo prejudicado! Vai precisar de notas boas se...
- Se eu quiser ser o capitão do time de basquete no intercolegial, eu já sei! – Pedro completou a frase de Tarek com impaciência, prevendo suas palavras. Ele suspirou longamente, não querendo irritar-se com o melhor amigo – Você está certo... Depois falamos sobre isso, tá bem?

Tarek concordou balançando a cabeça. Mal sabia que os constantes devaneios de seu amigo Pedro eram um dos sintomas de um grande dom que lentamente despertava... Se soubesse o quanto o quanto aquilo lhe traria problemas, Tarek teria deixado aquilo de lado.

Mais tarde naquele dia, o agudo rebater da bola de basquete ecoava na quadra poliesportiva. Diferente de momentos atrás, Pedro agora estava atento no jogo e com os reflexos à flor da pele: era talentoso na quadra, e com suas longas pernas, saltava sobre seus oponentes como se não pesasse um grama. Todos os músculos de seu corpo forte e ágil trabalhavam ao extremo, como um coelho arredio que foge das garras de um lebréu.

As aulas de educação física eram refresco para Pedro: como capitão do time de basquete, ele e seus colegas de classe ficavam na escola após o término das aulas, treinando para campeonatos regionais ou o intercolegial. Ofegante, o jovem capitão procurou por sua garrafa térmica após a árdua disputa contra o time de Cícero, um jovem maior e robusto que não temia usar sua força para fatigar o time oposto. Seu eterno rival desde a quarta série, tamanha era a chama que os consumia que faíscas saltavam quando estes trocavam olhares tortos.

Viu Tarek lhe entregando a toalha e a garrafa de água gelada, e estranhamente, ele carregava sua mochila em costas naquela tarde.

- Já vai embora? – perguntou Pedro, limpando o suor da testa exposta pelos cabelos curtos presos atrás da cabeça.
- Vou sim, Pedro. Eu sinto muito... – ele não parecia muito arrependido, afinal, aquilo estava se tornando frequente.
- Mas por quê? Você mesmo diz que não gosta de voltar sozinho pra casa depois da aula! – ele perguntou novamente, levando a água à boca e bochechando.
- Falei pra você que estaria atarefado a semana inteira! – Tarek respondeu com certa indignação, o que era estranho da sua parte, vendo Pedro cuspindo a água que estava em sua boca como fazia de costume – Meu irmão e meu tio estão precisando de mim.
- Você tem andado muito estranho, Tarek... – disse Roberto, um aluno da outra sala e braço direito de Pedro no basquete.

“Mais estranho do que de costume”, ele pensou em dizer.

- Pensei que te encontraria trabalhando na loja, mas fui lá e não encontrei ninguém – continuou – Mas te vi saindo de noite lá pra perto do bodozal, o que cê tá aprontando por lá? – concluiu com um sorriso malicioso.
- O bodozal? Tá falando sério? – Pedro, incrédulo.
- Eu acho que não, Roberto. Deve ter me confundido com outra pessoa – Tarek se defendeu, mas no fundo sabia que seria em vão. Ele era um jovem de aspectos bem dinstintos.

Especialmente porque, em seu bairro, não havia nenhum outro adolescente ameríndio. Sua descendência era, de fato, de raízes norte-americanas – e era fiel aos seus costumes, caráter e filosofia de vida nativa. Usava sempre um colar de dentes de urso no pescoço, dado desde criança por seu irmão mais velho – e penas atadas atrás de seus cabelos negros e lisos como um córrego. Na rua e em casa, normalmente usava apenas calças jeans e chinelos – quando vestia roupas de cima, eram normalmente blusas sociais usadas e desbotadas. Era uma alma simples mas única e de características inconfundíveis, e se tratando de seus amigos, Tarek tão era íntimo de ambos a ponto de repartir um cachimbo que fumava em sua casa certo dia!

Logo, seria impossível confundi-lo com outra pessoa, mas Pedro não se manifestou. Há dias Tarek andava esquivo, evitando tocar no assunto – antes tão mente aberta e comunicativo, agora evitava dar satisfações de sua vida pessoal. No entanto, continuava tão transparente quanto antes, e Pedro sabia que seu amigo escondia algo...

Quão sério deveria ser algo que transformava seu velho e bom amigo Tarek num cãozinho acuado? Aquilo não lhe saiu da cabeça. Pedro voltou para casa, pensativo, de maneira que o almoço de sua querida mãe perdia o sabor mesmo estando faminto. Em seu quarto, jogou a bolsa sobre a cama e tirou o uniforme suado de educação física, tirando das gavetas uma cueca e indo em direção ao banheiro, preparando-se para um banho refrescante.

Fazia todas as atividades de maneira tão robótica que se sentia em piloto automático. No jogo da vida, as fases repetitivas perdem sua razão de ser... Quando com a cabeça nas nuvens, o mundo parecia morrer ao seu redor. Enxuto, Pedro voltou aos seus aposentos e atirou-se na cama, encarando o teto sem motivo aparente. Pensou em descansar, com preguiça de revolver os livros para estudar, preferindo dormir a sentir a dúvida frutificando em sua mente e pondo minhocas na cabeça.

Não percebeu quando finalmente dormiu. Com os músculos exaustos, não seria tão difícil ceder ao sono... Não costumava dormir à tarde, mas por algum motivo, estava mais cansado após o treino. Sentira a energia lhe sendo sugada. Quando seus olhos ainda pesavam, despertou com o tindar do beriumbau sob a sacada do seu quarto. O bumbo e chocalhos começaram a acompanha-lo, até que vozes deram sentimento aos batuques e abriam a roda de capoeira.

Quando eu era criança, eu era discriminado,
Muita gente me dizia pra deixar capoeira de lado
Me dizia que capoeira era coisa pra maloqueiro
Que eu tinha que ir pra escola, estudar pra ganhar muito dinheiro...



Pedro se aproximou da sacada, esfregando o rosto. Viu as mesmas figuras de sempre, incluindo seu colega de sala Damião, um jovem negro e muito vigoroso pela habilidade na luta. Era robusto para um rapaz da sua idade, carismático e maduro, e sua simpatia inspirava as mocinhas da escola e lhes arrancava muitos suspiros apaixonados... Sendo mais adulto por dentro e por fora, era o melhor amigo do impulsivo valentão Cícero – e o responsável por manter a cabeça do rival de Pedro no lugar. E por isso ele lhe era muito grato!

A maioria de seus amigos da escola morava próximos um dos outros, vizinhos num bairro classe média-baixa e pobre. Casas formavam-se subindo a ladeira, de encontro a uma grande avenida comercial, com a vista para uma praça verdejante com um córrego lhe cortando ao meio, que ao por do sol, tornava aquela vista exuberante. Apoiado nos parapeitos, Pedro observava os capoeiristas com uma sobrancelha erguida – mesmo sendo mulato, não se identificava com os jovens tão negros quanto eles.

Estudar pra ser formado
Engenheiro, doutor advogado!


Tinha a pele morena suave herdada da mistura de tons mestiços dos pais. Havia capoeiristas que até pareciam caucasianos, e achava aquilo deveras estranho... Quando convidado por Damião para participar, seu pavio encurteceu quando um dos lutadores o provocou chamando-o de “imbecil”, “racista” ou algo do gênero... Nem ele mesmo se lembrava. Bom de briga, Pedro e o lutador precisaram ser apartados para evitar uma tragédia, e após tantos anos estudando juntos, ele nunca vira Damião tão desconcertado.


“Pedro, não importa se seu tom de pele é moreno claro ou escuro, você é negro! Olhe pros seus pais, sua forma de agir, de pensar... Você sofre preconceito como todos nós pelos mesmos motivos. Você ainda está verde demais para compreender o quanto é importante resgatar e manter nossas identidades, mas não pense que estou e forçando a tomar uma decisão...”


Foi o que Damião lhe disse, durante o recreio do dia seguinte. Por mais que não aparentasse por sua atitude marrenta, Pedro ainda pensava no que foi lhe dito tempos atrás... Não procurou se aprofundar no assunto, mas achava estranho ao escutar outros jovens negros falando de racismo quando que, para isso, tivessem que diminuir a identidade cultural dos brancos. Não seria hipocrisia demais combater o preconceito com mais desgosto? E até onde Pedro bem sabia, origens pouco importavam: as pessoas podiam ser o que bem quisessem na nossa nova sociedade, afinal!

- É isso. Não tenho a obrigação de gostar de pagode e capoeira... – cruzou os braços atrás da cabeça. Sempre teve o costume de falar sozinho desde criança, como que falando com um amigo imaginário – Posso ser negro e gostar de rock e de pintar o cabelo, não posso? Cada um com sua vida, “imbecil”...

Disse com desprezo, olhando para o capoeirista que o provocou naquele dia, que ria sentado num banco. Pra alguém que podia ser o que quisesse, Pedro estava bem menos sorridente do que ele...

Seus olhos viram uma figura conhecida atravessando a rua. O céu já estava escuro, mas não se enganava: era Tarek, atravessando na faixa de pedestres, até o caminho que o levaria de até os terrenos baldios nos fundos do córrego. O bodozal era uma formação pantaneira de árvores e capim alto com água caudalosa, onde viviam peixes que gostavam da imundície – os chamados bodós, uma espécie de peixe-gato.

Sabia-se que aquela parte do parque era muito mal frequentada, especialmente por gangues e tráfico de drogas. Pedro também sabia que Tarek era adepto de algumas substâncias alucinógenas típicas de suas tradições, mas será que ele estaria...?

Não, não podia ser. Tarek não se envolveria com esse tipo de coisa! Jamais daria apoio ao crime organizado, era um pacifista. Preocupado, Pedro não pensou duas vezes e vestiu algumas roupas, parando nas escadas para atar seus tênis apressadamente, quando foi avistado pela irmã menor lanchando na copa da cozinha.

- Aonde cê vai? – perguntou Adriana, uma geniosa menina de oito anos, muito lembrando Pedro quando tinha essa idade.
- Vou na casa do Tarek. Avisa pra mamãe que eu não tenho hora pra voltar! – já estava no outro pé, e sua ansiedade anormal chamou a atenção da pequena.
- Ela vai ficar brava, ela mandou você ficar estudando! – falou num tom de severo aviso.
- Aah, fica quieta, garota! – esbravejou, quase tropeçando da escada ao se levantar – É um assunto muito sério, Adriana! O Tarek pode estar todo enrolado!...

A menina, em sua flor da idade, gostava muito quando o irmão maior trazia o amigo para sua casa... Tarek era simpático, e bonito, e se tornou a primeira paixão da pequena Adriana. Os grandes e expressivos olhos castanhos analisavam a linguagem corporal de Pedro, e sagazmente imaginou o que poderia ter acontecido ao seu amado. Lembrou-se das conversas que tinha com a mãe, sobre o cuidado que deveria ter com estranhos e as más companhias na escola e no bairro... Sabia a imensidão do perigo, e antes que Pedro saísse de casa, eles trocaram olhares e ele viu então uma Adriana de olhos molhados, preocupada, diferente da durona irmã que viu nascer e crescer.

- Adriana – ele se ajoelhou, ficando na sua altura e a segurando pelos ombros – Fica tranquila, tá? Eu vou descobrir o que tá acontecendo com ele, e seja o que for, eu vou... – deu uma longa pausa, tentando olhar nos olhos esquivos da irmã.
- O que você vai fazer, Pedro?

A ingênua pergunta de uma criança tinha um tom de pesado desafio para Pedro. Ele não sabia dizer o que poderia fazer, caso suas suspeitas se confirmassem.

- Eu vou pensar no que fazer, tá bem? Se ele precisar de ajuda, vamos ajuda-lo.
- Tudo bem... Eu vou fazer o que for possível aqui.
- Ok, então – ele ergueu-se. Puxa, como o irmão era alto! Adriana decidiu: também faria basquete quando maior – Eu já volto.

E viu o irmão sumir na noite, como um fantasma encapuzado misturando-se ao breu. Uma figura soturna que foi sumindo do seu campo de visão infante, ouvindo apenas o badalar das cantigas de capoeira conforme o vulto de seu corajoso irmão mais velho desaparecia nas sombras que a luz dos postes não alcançava, tal qual seu coraçãozinho diminuindo em seu peito sendo dominado pelo medo...

Pelo bem de todos, Pedro, voltem sãos e salvos!

- - -

Respostas ao comentários estarão anexas no final dos capítulos!

- - -


Última edição por RESPAWN em Qua 8 Ago 2012 - 12:37, editado 6 vez(es)

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Mensagem por Lucas Makuso Seg 30 Jul 2012 - 1:17

Muito boa a fanfic! Eu pensei que ia aparar em um certo ponto, mas ficou grande o episódio! Isso foi um Prólogo ou um Episódio? Eu fiquei confuso agora. Eu quero ver o que o Tarek está fazendo e Pedro irá fazer.
A garoto era igual eu nessa idade, minha mãe sempre avisava esses negócios... Mas ai até que ela parou, já que eu vou a pé com a minha irmã para a escola. Estou gostando de seu estilo de escrita e não vi nenhum erro de português em nenhuma circunstância. Espero o próximo episódio o/ O que eu entendi é que Tarek é meio índio e o Pedro é moreno que sofre bullyng por causa da sua cor? É isso?
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Mensagem por Zombie Seg 30 Jul 2012 - 11:39

Quando vi o nome Oversoul logo me lembrei de Shaman King, e quando eu pus para tocar a "Canção de Abertura" logo tive certeza que a fic era sobre Shaman King.

RESPAWN escreveu:
“Pedro, não importa se seu tom de pele é moreno claro ou escuro, você é negro! Olhe pros seus pais, sua forma de agir, de pensar... Você sofre preconceito como todos nós pelos mesmos motivos. Você ainda está verde demais para compreender o quanto é importante resgatar e manter nossas identidades, mas não pense que estou e forçando a tomar uma decisão...”

De preferencia deixe toda a Fic na esquerda, na esquerda é o ideal.
Deixa a fic toda com apenas um tipo de letra, com a letra que começar vai ser a letra que deve terminar.
O enredo no meu ponto de vista está organizado, a historia está legal e explicativa.
Sua ortografia parece boa, travessões, pontuações; estão corretos, se estiver errado eu não percebi nenhum.
A FanFic está ótima, espere que continue escrevendo. Gostei muito!


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Mensagem por FrostFire Seg 30 Jul 2012 - 12:11

A história não é clichê, a história é realmente boa, e ninguém pode dizer o contrário
A ortografia está ótima, e não vi erros. Os personagens são carismáticos e bem descritos no texto, além de serem diferentes.
A história tem futuro, não desista Very Happy

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Mensagem por RESPAWN Qui 2 Ago 2012 - 16:41

Crônica de Pedro, o Coração do Leão
Capítulo 1 – A Prisão Mediúnica



Oversoul - O Renascer dos Heróis Xsf2r

Spoiler:

- Maldito Tarek! Olha onde você foi me meter, seu bicho-grilo desgraçado!

Pedro praguejava ao sentir os pés afundando, sujando os tênis e a barra da calça, ao seguir a trilha lamacenta de barro deixada pelo amigo abrindo caminho no denso bodozal. Percebeu como o número de pegadas surgindo na trilha aumentava gradualmente, e talvez fosse mais sensato traçar uma rota aleatória antes de prosseguir...

Cansado, Pedro já suava ofegante. A mata densa se fechava sobre ele, de maneira que a copa das árvores e a escuridão da noite logo se tornariam um só. Perspicaz, pegou seu celular e ativou a lanterna no topo do aparelho – tantas vezes já ouviu zombarias sobre como seu telefone era quadradão e obsoleto, mas o considerava um companheiro de guerra que nunca lhe falhou. Apertou-o contra os dentes na boca e prosseguiu seu percurso, abrindo uma trilha se segurando nos galhos contorcidos para erguer-se e caminhar sobre o solo fofo no caminho iluminado.

Seu andar farfalhava as folhas mortas no chão úmido, que parecia querer puxá-lo para baixo da terra a cada passo pesado dado na lama pesada. Gases de odor desagradável liberados pelo solo podre limitavam seu estoque de oxigênio, tornando a respiração cada vez mais travosa... Apertava os olhos tentando enxergar na luz precária da lanterna, tendo até seu sentido mais fiel (a visão) lhe faltando.

A atmosfera estava ficando pesada. Pedro sentia como se sua energia se esvaecesse lentamente, como havia acontecido durante o treino de basquete naquela manhã... Viu que se aproximava de uma clareira iluminada aberta no bodozal. Coração disparando na premissa do perigo, suspirou longamente sentindo a ansiedade dominá-lo, tornando-o vulnerável ao medo primitivo do homem de ser mergulhado nas trevas...

- Não tenho medo do escuro. Temo o que se esconde nele – Pedro falava para evitar perder o controle sobre si mesmo – E aqui não tem nada! Eu não tenho medo do escuro...

Repetiu a frase como um mantra em sua mente, tirando daí a coragem que precisava. Desligou a luz do celular, agachando-se e andando de quatro no chão, aproximando-se sorrateiro da clareira como um furtivo jaguar. Escondido após um amontoado de lixo orgânico, Pedro ergueu o pescoço e olhou para a clareira aonde a trilha original o levaria.

Logo percebeu que estava envolvido no pior tipo de situação. Pior do que brigas de gangues ou tráficos de drogas, aquilo mais parecia uma espécie de ritual tribal: o envolvimento com o oculto que mexe com o fértil imaginário popular. Muito acima do medo primitivo do homem pela escuridão, estava o medo do desconhecido: das forças da natureza que não se subjugaram ao intelecto humano e sendo assim, não podiam ser dominadas...

Pedro engoliu seco, sentindo calafrios ao ver os dois totens indígenas talhados em grandes troncos de madeira entre uma grande rocha. Aqueles animais, pitados a mão de cores diversas, pareciam acompanha-lo com seus olhos arregalados de qualquer ponto de vista. O rufar de tambores se misturava às rezas de vultos humanos ocultos na escuridão da mata, não tocados pela luz das tochas acesas em formato de círculo... Pedro não se deixou tanto abalar, estava familiarizado com os costumes nativo americanos, o chão só lhe faltou quando reconheceu o corpo atirado no centro das tochas na clareira.

- Tarek! – disse para si mesmo, tão surpreso ao ver o jovem amigo ali de quatro, com pernas e braços tremendo incapaz de sustentar o corpo, sentindo o chão lhe faltar como se a vida lentamente evaporasse de seus poros.

Nunca tinha o visto assim, tão suado e vermelho que parecesse ter voltado de uma maratona. Sempre cheio de gás e vitalidade, era difícil para Pedro ver seu melhor amigo a ponto de desmaiar com tamanho cansaço... Pedro se perguntava o que estava acontecendo, sequer imaginava que os rituais de seu povo fossem assim, tão fatigantes! A percussão dos tambores cessa, e nenhum som se faz ouvir em toda a mata.

O mais horripilante silêncio que Pedro presenciou.

Tarek fincou os dedos no chão com violência, rangendo os dentes com a mesma intensidade que marcava o solo com suas mãos. Joga o corpo para trás, num grito bestial que ecoa pela noite como o rugido de uma fera diabólica.

Pedro sobressaltou-se, assustado. Com os olhos revirados, o jovem ameríndio rugia com uma voz sobrenatural forte como um trovão, resfolegando tão pesadamente como nenhum animal vivo seria capaz... Pedro estava confuso, será que aquele era mesmo o seu amigo Tarek? Algo em seu intimo dizia que não, mas o ceticismo se recusava a acreditar que estivesse realmente possuído. Pedro não acreditava naquilo.

Mas se sentiu inclinado a crer naquele momento.

- Tolos... – sua voz era tão grave que cada palavra sua parecia pesar uma tonelada. Tarek reergueu-se, virando-se de costas para Pedro como se falasse com a rocha entre os totens indígenas – Por quanto tempo acham que poderão me aprisionar deste jeito?
- Subestima o poder do nosso grande chefe, criatura imunda! – disse uma voz de um dos vultos ocultos na escuridão – Não é mais uma ameaça ao nosso clã. Você não ter poder algum aprisionado!

Um sorriso carregado de malícia e prazer se desenhou em seus lábios. Seu corpo tremia diante do prelúdio risonho, explodindo numa gargalhada cruel que ecoou por todas as direções. Novamente, Pedro sentiu no peito o martelar da dúvida contra seu coração, incapaz de acreditar que tudo aquilo fosse possível... Tarek estava possuído por um espírito maligno, que usava seu corpo como um fantoche. Cambaleante, Tarek mancava ao andar, mas nunca parecia ir muito longe da luz das tochas acesas.

- O seu “grande chefe” não passa de um adolescente magricela, homem senil! – mesmo com os olhos revirados, Tarek dizia isso como se encarasse a figura nos olhos, com um sorriso cheio de dentes - Sinto grande mediunidade neste que me serve de corpo... Uma energia tão intensa capaz de domar um espírito poderoso como eu! Mas ainda é apenas uma criança... Uma frágil, indefesa criança humana de tenra carne.

E continuou. Pedro sentia o coração pulsar em sua garganta, rosto oleoso pelo suor. Calmos e concentrados, os membros do clã Hiawata permaneciam imóveis, tão alertas e incorruptíveis como os totens de sua tribo.

- Acham que um círculo de fogo é o bastante para me impedir – riu com sarcasmo, prosseguindo - Fiquem de sentinela a noite inteira. A cada raiar do sol, seu líder sente cada vez mais o peso da fadiga em seus ombros... E quando menos esperar eu vou obsediá-lo, devorar a carne e beber do sangue dos últimos descendentes do clã Hiawata, e assim então cumprirei a minha sina milenar! Este que me serve de corpo será o responsável pela morte de todos aqueles que mais ama...

Pedro percebeu-se confortável em seu esconderijo quando descobriu que os sentidos espirituais não eram limitados pelo corpo humano...

- E ISSO INCLUI VOCÊ! – o demônio virou-se na direção de Pedro, atirando-o para trás com o ricochete da sua voz forte como uma rajada sônica – HAAAWHAHHAHAHAAAA!

Apavorado até as calças, Pedro foge na direção contrária, correndo desesperado por sua vida. Submergindo-se na escuridão, tropeçou tantas vezes que machucou-se no caminho de volta. Estava pálido, prestes a perder o controle sobre a própria bexiga, arfando enquanto disparava sem olhar para trás.

Estava temeroso e paranoico, não perdendo o ritmo quando chegou à rua principal. Quem o conhecia nunca o viu tão apressado, sujo a ponto de deixar um rastro de lama no chão. Sua prima que morava numa casa vizinha, Marina, estava na sacada de casa quando o viu descendo a ladeira daquele jeito.

Apenas quando entrou em casa, Pedro pôde finalmente relaxar, sentindo-se seguro no conforto do lar. Adriana e a mãe, que assistiam novela na sala de estar, demoraram a entender o que viam.

- Pedro, meu filho! Onde esteve?! – a mãe, tipicamente, saltou do sofá e foi ao socorro da prole – Está pálido! E tremendo, meu Deus! Pedro, me responde! Fala alguma coisa!

A irmã nada disse, levando as mãozinhas sobre a boca de tão preocupada. Por comando da mãe, foi buscar um pouco de água com açúcar enquanto Miranda guiava o filho até o sofá da sala, emudecido. O pai, Marcelo, não demorou a aparecer, descendo do quarto do casal após o escândalo da mulher no andar de baixo.

- Você foi assaltado? – Adriana deu uma colher de chá ao irmão, que concordou com a cabeça.
- Tentaram me assaltar na volta da casa do Tarek, ele anda... Um pouco doente.
- E você reagiu? – perguntou o pai – Olha como você tá imundo, não acredito que caiu na briga com eles! O que eu falo sobre não andar perto daquele bodozal?!
- Marcelo, dá um tempo! – a mãe ergueu a voz desta vez – Não vê que ele tá apavorado?

Pedro já não ouvia mais nada. A voz daquele espírito ruidoso ainda ecoava na sua cabeça... Temia pela própria vida, que pela primeira vez, nunca pareceu tão tenuamente próxima da morte. Nunca se perguntou se espíritos realmente existiam, tampouco se incorporações e xamanismo fossem de fato um teatro bem interpretado.

Tremia suando frio, com os olhos arregalados darteando pelo quarto. Cada segundo que passava deitado em sua cama, relembrando os fatos daquela noite e embebido na luz de seus aposentos, tinha plena certeza de que não fecharia os olhos naquela noite. Sabia, ao olhar através da sacada de seu quarto, que nenhum lugar coberto na escuridão sombria da noite seria seguro... Pois lá estaria o demônio que jurou tirar sua vida.

E esperaria pacientemente, em qualquer lugar que a luz não tocasse. Porque o Wendigo, o devorador de homens, só ataca quando mergulhado nos medos mais primitivos do ser humano...

- Eu não tenho medo do escuro. Eu não tenho medo do escuro – lágrimas salgadas de medo escorriam pelo rosto – Eu não tenho medo do escuro... Eu não tenho medo do escuro...

“Apenas do que há nele”

E ele vai esperar. Pacientemente. Até cumprir sua sina.



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Oversoul - O Renascer dos Heróis Empty Re: Oversoul - O Renascer dos Heróis

Mensagem por RESPAWN Sex 3 Ago 2012 - 16:32

Crônica de Pedro, o Coração do Leão
Capítulo 3 – Surge Komba, o Leão de Uganda


Oversoul - O Renascer dos Heróis Xsf2r

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Enfim, Pedro finalmente conseguiu dormir. Cedendo ao cansaço, o jovem pôde descansar um pouco a ponto de se esquecer do medo. Com o raiar do Sol, a luz divina da manhã agora ganhou um significado ainda maior... Seria a trégua tanto ansiada por Pedro, o único momento que ele poderia sossegar, sabendo que nenhuma entidade sobrenatural estaria o espreitando.

Até que ele viu o Leão de Uganda flutuando sobre sua cama.

A estranha criatura estava de pernas cruzadas, flutuando parado no ar encarando Pedro com os grandes olhos felinos. Achou estranho que Pedro esfregasse os olhos e o encarasse de volta com perplexidade. O leão olhou por cima dos ombros, pensando que houvesse alguma coisa atrás dele... Mas não. Ele próprio estava surpreso agora: Pedro o enxergava, e bem! Apavorado em ver que ele reagia, Pedro rolou da cama com lençol e tudo, querendo fugir da estranha figura.

- Pedro! Pedro, você consegue me ver! – assim disse o leão, volitando em sua direção.

E podia falar também. Nada poderia fazer menos sentido! Levantou-se, disparou em direção da porta que trancada por dentro, praguejando ao tentar sem sucesso usar a chave trêmula em seus dedos para escapar.

- Espera, não vai embora! – o leão exclamou – Eu não vou te fazer mal!

Então, alucinado, Pedro procurou abrigo no banheiro. Lá entrou e trancou a porta, caminhando ofegante até o espelho da pia e encarando seu reflexo de olhos arregalados. Ligou a torneira, esfregou água no rosto para ficar mais desperto, repetindo a si mesmo:

- Isso é um sonho... É só um sonho! Eu estou nervoso, é só isso! – riu nervosamente – Calma, Pedro... Não perca o controle!

O Leão de Uganda suspirou longa e impacientemente do lado de fora. Com os pés no chão, caminhou até a porta do banheiro - sendo imaterial, atravessou-a sem problemas.

- Dá pra parar de dar pití? Tá parecendo fresco! - disse isso com as mãos na cintura.
- HAAAHH! – Pedro deu um grito, recuando para trás e batendo com a batata das pernas na banheira. Tentou segurar-se na cortina no box, quebrando o apoio de ferro e derrubando o porta-xampu encima de si mesmo.

Após muito barulho de metal e porcelana se chocando, apenas o fluxo da água na torneira aberta quebra o constrangedor silêncio entre os dois. O leão ficou ali, simplesmente sentindo pena por Pedro e por si mesmo, levando a mão ao rosto, envergonhado diante daquele humilhante cenário: seu protegido, caído no banheiro como alguma espécie de desenho animado desastrado.

- Dai-me paciência, eu mereço isso! – o leão praguejou.
- Ooohn... Só pode tá brincando, né? – Pedro alisou a cabeça, dolorida com a queda – Eu só posso estar zuado da cabeça. Isso não está acontecendo...
- Para de falar desse jeito, tá me assustando, porra.
- Você tá assustado?! Tá assustado com o quê, pomba?! – fez som de metal chiando ao tentar se livrar da parafernália que o sufocava na banheira – Seja lá o que você for... Some, desaparece! – contornando o leãozinho com desconfiança, Pedro abre a porta e foge de volta pro quarto.
- Calma, Pé Preto, sossega esse rabo aí! – e o Leão o seguiu.
- Alucinação... É isso!

Pedro não confiava nas intenções do Leão de Uganda, nunca virando as costas para ele, encostando-se na parede enquanto mantinha os olhos na estranha criatura.

- Eu ainda não superei o que eu vi ontem a noite, é isso! Você... – apontou para Leão – Você é apenas um reflexo do meu medo! Alucinação, você NÃO EXISTE!
- Escuta, Pé Preto, eu não sei se era isso o que tinha no cachimbo do seu amigo, mas eu te garanto! Eu não sou um fruto da sua imaginação!
- Por favor... Por favor, chega! Chega disso!

Pedro levou as mãos ao rosto, desesperado. Implorava para que aquela tortura acabasse. Ele não queria entender, ele não queria fazer parte daquilo... Primeiro, seu amigo Tarek foi possuído por um espírito canibal, e agora isso! Tudo no mundo da espiritualidade o apavorava, e se dali em diante passaria a ver espíritos, preferiria nunca mais sair de casa novamente.

- Pedro... – o leãozinho suspirou, com dó do jovem protegido. Nunca imaginou que as circunstâncias em que se conhecessem seriam num momento tão traumático.
- Não. Por favor, vai embora – de lado, Pedro evitava contato visual com o espírito – Eu já tenho muitos problemas com espíritos, por favor!
- Eu sei que tem, Pedro. Eu estava lá, afinal.

Pedro olhou novamente para o Leão de Uganda. Analisando melhor, nem de longe sentia emanar a mesma energia hostil e ruidosa do Wendigo na noite anterior, até pelo contrário: tinha a sensação de estar na companhia de um grande amigo. O leãozinho não lhe faria mal, e Pedro sabia disso... Desconfiado, deu uma chance a ele, suspirando longamente ao sentar-se na beira da cama.

- Muito bem... – procurou algum adjetivo para se referir a ele: “bichinho”, “espírito”, “coisa”, nenhum muito educado – Me explica, por favor, o que tá acontecendo.
- Olha só, eu sou novo nisso, por isso não posso te ajudar muito, tá bom? Humanos são muito mais do que macacos pelados, entende? Mas a grande maioria de vocês não usa o intelecto pra muitas coisas!

Pedro revirou os olhos pra cima, como que implorando por uma intervenção divina. Céus, Pedro, onde você foi se meter?...

- Acontece que todos os humanos tem mediunidade, Pedro, a capacidade de interagir com espíritos. É como uma espécie de sexto sentido, mas poucos nascem com mais talento pra isso do que outros!
- Tô começando a entender por que... – esfregou o rosto, desestimulado.
- Tem várias esferas espirituais na Terra, são como as estações de rádio e o homem é como uma antena parabólica. Mesmo sem querer, você pode se sintonizar com energias boas ou ruins, mas principalmente, com sua ancestralidade!
- Eu não sei se eu tô entendendo...?
- Olha só: conforme a população humana foi crescendo e traçando seu rumo na história, algumas esferas foram se tornando mais fortes, como a do espiritismo. Esta é formada apenas por humanos, entendeu? Conforme novas esferas formadas de espíritos humanos foram surgindo, algumas foram perdendo quem acreditasse nelas. Como a dos espíritos da natureza.
- Você quer dizer, a sua?
- Sim! Povos que não esqueceram o quão importante é o equilíbrio do homem entre eles e a natureza, ainda acreditam nos espíritos ancestrais do planeta e os cultuam em suas crenças.

Pedro não sabia nem o que dizer. Coçou o queixo e concluiu, confuso:

- Isso tem algo haver com discurso ambientalista?
- Porra, Pé Preto, não complica as coisas! – Leão de Uganda estava perdendo a paciência – Escuta! Assim como na esfera dos espíritos humanos, há aqueles espíritos que são bons e nos ajudam, e os ruins que se alimentam da nossa dor.
- Hummmmn... Isso eu sei – coçou o queixo, decidido.
- O meu papel, Pedro, é te proteger e te guiar! – Leão estava ficando empolgado – Sou seu guardião, um espírito ancestral seu que te aconselha, te acompanha e te protege de espíritos ruins 24 horas por dia.
- Então você é um anjo da guarda?
- Uhh, eu odeio essa palavra! - disse com desgosto - Mas sim, é bem isso. Pode me chamar de Leão, Leão de Uganda.
- Sério mesmo? – Pedro franziu o cenho, desconfiado – Pra mim você tem cara de Manjubinha.
- MANJUBINHA?! – o leão fechou os punhos, irritadíssimo – De onde foi que você tirou isso?!
- E de onde foi que você tirou Pé Preto, hein?!

E a briga persistiu, até que Pedro quase perdesse as esperanças.

- Mas agora não tem mais volta – disse "Manjubinha" – Você agora não pode fazer mais nada. Na verdade, nunca pensei que fôssemos nos encontrar... Afinal, a sintonia dos espíritos da natureza só tem ficado mais fraca com o passar do tempo. Mas depois de ontem a noite, não teve outro jeito...
- Ontem à noite? Você fala...
- Aquele demônio que estava no Tarek se chamava Wendigo. Ele é forte e muito perigoso, e ontem a noite, ele veio atrás de você! – ele estava sério agora.

Pedro alisou o rosto, preocupadíssimo.

- Ele tentou entrar nos seus sonhos, mas não deixei. Deveria ser mais grato, Pé Preto, enquanto você se debatia na cama como uma garotinha, eu estava virando um casaco de peles pra impedir que ele fizesse alguma maldade com você.
- Jura que fez isso? Mas... – ele o olhou de cima a baixo – Porque? E você não parece ferido...
- Dããã! Eu sou um espírito, tá ligado? Sou seu guardião, é mais do que o meu dever – disse zombeteiro – É complicado. Quando você tiver cabeça pra entender, eu posso explicar...
- Não precisa. Há quem explique para nós – ele se levantou, decidido, procurando roupas no armário.
- O que tá fazendo? Você vai sair?
- Vou na loja do irmão do Tarek, o Tamahome. Aquele cara que... Bom, você deve conhecer – e vestiu uma blusa larga.
- Conheço sim. Ele com certeza vai saber o que fazer. Na verdade eu iria recomendar que você fosse lá agora mesmo... – Manjubinha levou as mãos para trás na cabeça, virando-se de costas quando Pedro começou a vestir suas calças jeans.
- É, eu sei – Pedro respondeu. E tinha um sorriso nos lábios.

O Leão de Uganda, também parecia sorrir.

- Pedro. Muito obrigado.
- Hein? – fechando o armário, Pedro viu aquele simpático leãozinho de um pouco mais de um metro, o olhando com uma expressão de satisfação.
- Obrigado. Não sabe quanto tempo esperei por esse momento! De sentar com você, conversar com você, como os amigos de verdade fazem.
- Eu... Eu que agradeço.

E sorriram longamente. Foi naquele momento que Pedro descobriu que seu maior aliado sempre esteve ali, durante toda a sua vida, protegendo-o silenciosamente de males que não poderia enxergar...

- Mas corta essa de “Manjubinha”. É ridículo.
- Fica quieto, não é pior do que Pé Preto.
- Pedro, dá uma olhada na sola do seu pé e vai entender o que eu quero dizer.
- E o que você prefere, então? “Simba”?
- O quê?! NÃO!

E Adriana, espionando pela porta, escutava o monólogo do irmão:

- “Bimba”, o que acha? É um mestre de capoeira.
- Nada de “Simba”, “Bimba”, para com essas besteiras!... “Komba” tá bom.
- Komba? Bom, você quem sabe!
- Mas é você quem manda, Pé Preto.

E olhou assustada para o nada, esperando do fundo do coração que o irmão não estivesse no mesmo caminho de seu amado Tarek.

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Mensagem por FrostFire Sáb 4 Ago 2012 - 0:28

Uma linguagem única e boa, nesse capítulo senti falta das narrações.
Mas fiquei preso, a história está cada vez mais interessante e percebi que é muito boa mesmo, bem original, como você disse, "com seus clichêzinhos", mas original.
Não percebi nenhum erro de pontuação, revisei o texto milhões de vezes, na espera de achar alguma coisa errada, mas não achei.
CHEGA DE SER PERFEITAA! xD
Mas, está ótimo, Nanda, parabéns, não vá desistir eim!

E Será que o Espirito pode aparecer para outras pessoas se ele quiser? D:

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Mensagem por RESPAWN Qua 8 Ago 2012 - 12:29

Crônica de Pedro, o Coração do Leão
Capítulo 3 – O Fugitivo


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A avenida principal próxima à casa de Pedro era uma das aortas que faziam pulsar o coração da cidade, o centro comercial – e como os vasos capilares que fazem fluir o sangue para o corpo, as esquinas e ruas adjacentes à avenida também a nutriam com seus microcomércios familiares, como lanchonetes e armazéns.

- Você acha que ele tá bem? Quero dizer, depois de ontem?... – Pedro perguntou, sem se preocupar em parecer um doido falando sozinho na rua.
- Tá sim, Pedro, o Tarek nasceu com grande potencial mediúnico e foi muito bem treinado pelos parentes – Komba, o leão, o respondeu – Mas é sério, não precisa responder assim pra mim, as pessoas já estão te olhando estranho... Não dá bobeira.
- E como é que eu faço, então? – Pedro dizia, fazendo contato visual com duas velhinhas, que ao ver aquele jovem falando sozinho, e desviaram seus olhares constrangidas.

“Bem assim”. A voz de Komba ressoou em sua mente, sem que seus lábios se movessem – “É como uma espécie de telepatia, é assim que eu posso agir como a voz da sua consciência.”
“Consciência?” Pedro também ouvia o som de suas próprias palavras – “Mas uh, aaahn, haah!”
“Não procure entender como, deixa rolar! É um instinto, Pedro, deixe fluir naturalmente” – e sorriu amigável.

Pensativo, Pedro nada mais disse até se aproximarem da garagem da casa de Tarek. Ele viva com o irmão Tamahome, e o seu tio Sambo – aparentemente, eles eram um dos últimos sobreviventes de uma linhagem longínqua de uma tribo norte-americana. Tarek puxou o tio na simpatia e tranquilidade, um espírito pacífico e livre com seu lugar na natureza – diferente de Tamahome, que de acordo com ele, puxou seus ancestrais em sua seriedade, caráter centrado e incorruptível... Mas para Pedro, ele era só um cara muito rabugento.

- Espera um minuto! – Pedro sobressaltou, parando diante da garagem onde funcionava a loja dos Hiawata – Komba, você sempre fez isso? Lia minha mente, e atravessava as paredes e portas da casa?...
- Sim, porquê?
- Podia fazer isso... Inclusive... Nos meus momentos e pensamentos mais íntimos? – Pedro estava desconfortável com a pergunta. Komba franziu o cenho, como que diante de uma pergunta estúpida.
- Pedro, por favor! – e deixou que o adolescente tomasse suas próprias conclusões. Mas tarde demais: desapegado dos prazeres carnais e nunca os compreendendo totalmente, Komba já se lembrava dos tais pensamentos e atitudes “íntimas” de seu protegido, e fez uma cara de nojo.

“Estátua esquisita. Não me lembro dela estar aqui da última vez” – Pedro pensou, ao olhar para um alto manequim na frente da loja com pesados trajes étnicos, adereços na cabeça tão carregados que quase não se via o rosto do boneco.
“Manequim feio da porra...” – concluiu Komba.

Os Hiawata viviam do que sempre viveram: seus mais antigos ancestrais manufaturavam artefatos, bijuterias, trajes e utilidades típicas de sua tribo para venderem e sobreviverem no mundo capitalista. A loja era pequena, mas era procurada entre os moradores, e vendia de tudo um pouco... No entanto, Pedro procurou Tamahome pelos interiores da loja e não o encontrou

Já entardecia, e como nos Sábados de manhã o responsável pela loja seria Tarek, o período da tarde pertencia ao irmão mais velho – era estranho Tamahome, um homem tão sério e comprometido com seus afazeres diários, não estar nos arredores.

- Ei, cadê o grandão? – perguntou Komba – Sinto que ele está por perto... Mas onde?

“Onde”, pensou Pedro. Enquanto encarava a máquina de refrigerante próxima ao balcão, ele sentiu uma espécie de pressentimento. Sem dizer uma palavra, ele voltou para a entrada da loja e se pôs a olhar longamente o manequim coberto em pano, penas e couro.

- Pé Preto, não vai atrás do Tarek? Vai ficar olhando pra esse filhote de cruz credo, mesmo?
- É você, Tamahome? – Pedro falava para o manequim – O que tá fazendo parado aqui na frente?

E como uma espécie de totem demoníaco, os olhos do enorme vulto parado diante da loja abrem-se como se numa espécie de transe: atentos, negros e perfurantes como uma flecha na alma. Ele olha para Pedro ao seu lado, e Komba sentiu seus pelos se arrepiarem: não sabia que o manequim era Tamahome disfarçado, e sabendo que este era um médium poderoso que podia vê-lo e escutá-lo perfeitamente, ele provavelmente ouviu seus pensamentos e fez o leão temer por cada uma das suas sete vidas.

- Pedro – a voz era densa e pesada para um homem de seus vinte e poucos anos – Vejo que agora pode comunicar-se com seu espírito guardião...
- Eeerh... Sim – Pedro vacilou em confirmar – Desde hoje de manhã. Eu vim pedir desculpas pelo que aconteceu ontem a noite, e vim ver se o Tarek está bem.
- Ele está sob a sentinela do espírito guardião dele, o Lobo Cinzento. Ele tem poderes mediúnicos muito superiores ao meu, Pedro, ele vai ficar bem. Agora quanto a você... – Tamahome virava seu rosto na sua direção, ainda com as expressões ocultas sob os apetrechos em sua cabeça – Eu não posso garantir sua segurança.
- Não fale besteiras! – disse Komba, atrevido – O Wendigo tentou atormentar os sonhos dele, mas eu consegui impedi-lo! Pedro, diga a ele, você dormiu normalmente depois de um tempo, não foi?!
- Você é quem diz besteiras, Leão de Uganda – o inabalável ameríndio voltou a encarar o pôr-do-sol rosado no horizonte nublado – Não se sente nem um pouco diferente?

Pedro e Komba se entreolharam, como que esperando encontrar a resposta um no outro. Tamahome pediu que escutassem atentamente, mas que não poderia entrar para não abandonar seu posto na sentinela.

- Há séculos, a esfera dos espíritos ancestrais da natureza estava enfraquecida pela extinção das nações e povos do mundo que neles acreditavam. A gênese de um espírito ancestral parte da crença coletiva de um povo... É a fé desse povo em seus heróis, espíritos e lendas que o sintoniza em harmonia com o seu meio, trazendo vida e significado existencial aos espíritos ancestrais.
- Você quer dizer que... – Pedro olha para seu amigo Komba – Que mitos e lendas são verdadeiros? Que essas entidades cultuadas existem, e os protegem de verdade?
- Desapegue-se de ideias que alimentem seu ceticismo, Pedro. Você já não pode se dar mais a esse luxo... Depois de ontem a noite, sua mediunidade despertou pelo instinto de sobrevivência, e já se tornou um caminho sem volta. A verdade está diante de seus olhos, negá-la não o levará a lugar algum.

Era indiscutível... Afinal, Komba estava ali agora. Era difícil olhar em seus grandes olhos dourados e aceitar que tudo o que acreditava anteriormente era mentira. Não era um cristão praticante, mas nunca procurou se questionar sobre a vida após a morte e a existência de espíritos. Agora que estava diante de uma situação desconhecida, Pedro sentiu-se derrotado e sozinho novamente, sentindo-se minúsculo sob das perguntas que se amontoavam sobre ele.

Ficou cabisbaixo. Mordeu os lábios frustrado, fechando os punhos contendo a vontade de verter suas lágrimas... Antes que Komba visse seu protegido remoer-se em seus pensamentos, interviu novamente:

- Poderia explicar melhor sobre o Wendigo, Tamahome?
- Muito bem. A gênese de um espírito ancestral é complicada de se compreender, mas em síntese, eles surgem de um sentimento coletivo: seja pela dor, pelo amor, inclusive pelo medo. Wendigo nasceu do medo, cultivado pelo temor de tribos do norte americano pela escuridão da fria noite, o momento do dia em que o mais bravo dos homens não ousava se aventurar.

Há muitos anos, o ancestral fundador do clã Hiawata enfrentou o espírito trevoso Wendigo, enquanto este obsidiava o corpo de um urso negro. Seus descendentes carregaram em si a dádiva de grande mediunidade, tornando-se grandes líderes e xamãs de suas tribos.

- Quando um espírito é assassinado durante uma possessão, especialmente um trevoso, ele demora centenas de anos para recuperar-se completamente – Tamahome prosseguiu, vendo o crepúsculo tomando conta do céu, anunciando a chegada da noite – E nesse tempo, a esfera dos espíritos ancestrais já havia enfraquecido em muitas partes do planeta... As chances de Wendigo retornar beiravam o nulo.
- Mas ele voltou, e ameaçou me devorar pelas mãos do Tarek! – Pedro esbravejou, furioso – Está me dizendo que não há meio de impedi-lo, senão matando seu próprio irmão?!
- Pedro, calma! – Komba precisou gritar para lembra-lo de que entrar em pânico não o levaria a lugar algum... Mas o silêncio triste de Tamahome era muito revelador quanto ao peso de sua resposta – Tem um jeito... Não tem?
- Pedro, e Komba. Tarek é nosso grande líder agora – ele fecha os olhos, como se por um momento, voltasse a ser um boneco de cera – Todas as noites, ele é o responsável por aprisionar o Wendigo sob uma prisão mediúnica: quando aprisionado num corpo humano e cercado de luz, o Wendigo fica exposto e deixa de ser uma ameaça. Ele ataca apenas em forma espiritual, entrando em nossos sonhos e nos causando pesadelos terríveis, covardemente apoderando-se de nossos medos e nos deixando vulneráveis a ele. Portanto, eu só lhe peço uma coisa...

Pedro, em anos, nunca tinha os olhos vermelhos de quem estava prestes a chorar. Ele procura no olhar frio de Tamahome a resposta para sua aflição.

- Confie nele. Tarek é muito mais forte do que parece... Não tenha medo de perdê-lo, porque ele não deixará que isso aconteça.
- Eu... Eu prometo. Vou confiar nele.
- Você pode visita-lo em seu quarto, Pedro. Já está na hora de nos recolhermos novamente para aprisionar o Wendigo... Seu apoio o trará forças.

E voltaram para dentro da loja, onde usariam as escadas nos fundos para acessar os quartos dos irmãos. Pedro ia na frente mas tinha os passos lentos, e Komba sentiu sua aura pesada. Parou de andar, ereto, chamando a atenção de seu protegido.

- Ei, Pedro.
- O que foi, Komba? – ele respondeu com um longo suspiro.
- Eu não sei como... Nem sei quando... Eu não tenho memórias do meu passado, antes de te conhecer. Mas havia algo dentro de mim que dizia que eu te amaria, e te protegeria a vida toda como um leão protege sua família.

Pedro virou-se para ele. Sua intuição dizia que ele e Komba não eram diferentes, e sabia o pesar da palavra “amar” vindo de seus lábios.

- Durante todos esses anos, eu nunca falhei com a minha promessa de proteger você. Sempre estive bem ao seu lado – Komba prosseguiu, olhando para as próprias mãos peludas – Eu não sei dizer o quê, mas algo aconteceu. Algo nesses últimos dias que me deixou mais poderoso, que me fez sentir mais orgulhoso do meu dever como espírito guardião... E agora que você está aqui, Pedro, eu sou duas vezes mais forte. Eu não falharei com o meu dever!
- Komba... Eu nunca, eu sequer imaginava que!... – ficou cabisbaixo novamente, aos pés da escada – Que esse tempo... Havia mesmo alguém me protegendo, olhando por mim.
- Há algo muito maior cuidando de nós dois, Pedro – olhou para o telhado como um sorriso, como se enxergasse o céu através da casa – Talvez um dia eu e você compreendamos o que seja esse “algo”. Agora vamos lá, eu não gosto de ver você assim!

Pedro sorriu, e virou de costas novamente. Sabia que era tão humilhante para Komba quanto seria para ele, chorarem um diante do outro...

Até que o som horrível do vidro quebrando inundou seus sentidos. Não foi algo pequeno como um vaso ou um prato, foi algo muito maior. Sem perderem tempo, os dois subiram as escadas às pressas, até chegarem ao primeiro andar da casa. A sala de estar era pequena, e interligava todos os cômodos da casa: poucas coisas naquela parte do imóvel seriam suficientemente grandes pra produzir aquele som, a não ser...

- Ali! Veio do quarto dele! – Komba exclamou, disparando em direção da porta aberta do quarto de Tarek.

O coração foi à mil. Komba, ser de energia etérea, volitou como uma brisa e logo chegou antes de Pedro, que ficou desconcertado com o que viu: a janela redonda do quarto estava em pedaços, os móveis revirados e o quarto bagunçado, como se tivesse acontecido uma briga feia ali dentro. Desnorteado, os olhos de Pedro procuraram algo que lembrasse remotamente seu amigo Tarek, mas o que viu foi bem diferente:

- Migan! – gritou Komba, indo ao socorro de seu irmão espiritual – Migan, o que aconteceu?!

Migan foi o nome carinhoso dado ao espírito guardião de Tarek, um Lobo Cinzento que servia de guardião espiritual dos Hiawata há gerações. Era forte e experiente, quase do tamanho de um homem adulto, mas estava abatido e ofegante num canto da sala, como que se recuperando de um grande susto.

- Migan, o que aconteceu? Cadê o Tarek? – Komba voltou a perguntar.
- O Wendigo... Ele não tem honra alguma! Covarde! – praguejou, sentindo faltar as energias para se levantar, como se tivessem sido sugadas – Abaixei a guarda, e quando vi, Tarek já estava obsidiado... Sozinho, não tenho forças para expulsar o Wendigo de seu corpo. Ele atravessou o vidro da janela, e agora está solto por aí.
- Ele com certeza vai fazer alguma loucura! – Pedro exclamou – Venha, Komba, precisamos ir atrás dele!
- Espera, Pedro! – Komba – Você não pode ir atrás dele sozinho, ele vai te matar, com certeza! Ele tem força sobre-humana agora, você não vai ter a menor chance!
- Eu não vou ficar aqui esperando ele matar alguém e ir preso, Komba! O Tarek é o meu amigo, e mesmo me arriscando, é a única coisa que posso fazer!
- É por isso que eu disse que você não tem a menor chance... Sozinho.

E sorriu. Minga observava tudo com muita surpresa: Pedro estava em sintonia com os espíritos da natureza agora.

- Não estou mais sozinho, Komba... Nunca mais – e sorriu juntamente para seu amigo leãozinho.
- Não posso deixar que vá atrás dele, Pedro – disse Minga, erguendo-se com uma pata segurando o antebraço dolorido – Veja o que fez comigo. Você estará acabado se procurar aquele que anseia pela sua carne.
- É a mim que ele quer – Pedro respondeu decidido – Vamos dar um jeito. Tem que haver uma maneira!
- É possível se fecharmos os canais mediúnicos de Tarek, assim o Wendigo perderia a estabilidade e deixaria seu corpo forçadamente. Tamahome saberia como fazê-lo, mas já não sinto mais sua presença nesta casa...
- Deve ter visto o Wendigo fugindo e foi atrás dele – ambos pareceram concordar com a dedução de Pedro.
- Neste caso... Eu não ganharei nada tentando impedir você ou Komba. Tentarei rastrear o Wendigo com meu faro, mas precisarei de ajuda de um corpo físico se quiser expeli-lo... Tarek também é importante para mim, e só vamos poder ajudá-lo se trabalharmos juntos.
- Falou, Minga! Você é o cara! – Komba lhe deu um tapa amigável nas costas.
- Então não há tempos a perder – Pedro deu o sinal – Vamos partir!

E deixaram a casa de Tarek, e a coragem que acendeu a chama dentro de Pedro fez sua aura brilhar como uma das mais reluzentes estrelas do céu.



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