estrela

a primavera vem e fica, o sol brilha forte, queimando a pele, os botões se abrem, enchendo de cores perfumadas a cidade e seus arredores. muitos pokémon voam entre as flores e pétalas do ar, girando nos braços do vento, descompromissados. e essa dor no meu peito, o que faço com ela?. Estou na beira de um lago, em pé, olhando a margem oposta procurando tudo no nada. do meu lado maria toca sua gaita, um som gostoso, nos moldes do country, espeon descansa a cabeça em seu colo. giro uma flor violeta delicadamente entre o indicador e o polegar, ela escapole cai girando na grama. fito por um momento, estático, ela ali, piso. era bonita, quando estamos tristes coisas bonitas podem nos irritar, sabe? tendem a ser felizes, invejamos. quando ergo meus olhos vejo então, na margem oposta, minha estrela a sorrir. minha boca se abre. um brilho rosa então surge, menos de um segundo, ela some. minhas retinas ainda sentiam o clarão. corro. corro tentando atingir a outra margem. maria e espeon me olham com dúvida, ela grita alguma pergunta, provavelmente um "onde você vai?", mas não demora muito pra que levante e me siga. "me espere" ouço sua voz gritar. não posso. tenho que continuar em frente, curvando, até a outra margem. ouço um barulho de corpo contra a grama, me viro, sem parar, e vejo que maria tropeçou e levou um tombo, terei tempo de voltar e consolá-la depois. chego, enfim, na outra margem. ofego. não há nada aqui, apenas uma leve marca na grama, parecida com queimaduras, mas não sei dizer exatamente se é. maria chega, limpando-se, ao seu lado meu espeon. "tudo bem?" pergunto, ainda ofegante. "sim, mas o que aconteceu?". tiro o box de cigarro bolso, estico oferecendo pra ela. "você não viu aquela luz?" digo. "que luz?". "a rosada". "não", ela acende o cigarro e ficamos olhando a margem onde antes estávamos. sabe o que é engraçado? eu corri até estrela, pela primeira vez, quando ela já não mais estava. tenho medo de que ela já não seja. uma pequenina flor rosa passa girando na minha frente, seguro ela entre os dedos, delicadamente, suavemente, quase não toco, só impeço que continue. "me empreste sua mão" digo, seco, pra maria. ela estica. solto a flor naquela mão pequena, com dedos finos e morenos. "ela é bonita, mas frágil", diz minha namorada. "sim, muito bonita, e tão frágil, guarde bem, pode voar e sumir"

estou sentado em um bar. espeon deitado ao meu lado. encaro profundamente o copo de cerveja que esquenta aos poucos. aqueles nós no meu peito só apertam, mais e mais. sinto algumas lágrimas nascendo em meus olhos e morrendo em minha bochecha, as mais valentes na barba. essa manhã contei tudo pra maria. ela veio me perguntar o porquê de eu estar há algum tempo assim, angustiado, sem dizer o motivo real, aquilo estava a incomodando, eu via isso, contei-lhe tudo, sobre minhas horas de espera, de observação, meus sonhos, como eu já estava naquela antes mesmo de começarmos a namorar, e, acima de tudo, que sou apaixonado por outra garota, agora desaparecida. maria girou os olhos marejados, as lágrimas já estavam escorrendo, nasceram enquanto eu falava, me aproximei, mas ela me afastou com o braço e disse: "sai daqui, por favor". agora, depois disso tudo, estou aqui, na quinta cerveja. não tenho maria, não tenho estrela, não tenho mais nada, só meu espeon para me ouvir, só eu mesmo pra me aturar. termino o copo de cerveja já quente. me levanto, já me sinto um pouco tonto, ébrio, foram cinco, afinal. pago e saio. vou andando pela rua, pra onde? não sei. sinto meu celular vibrar no bolso. uma mensagem de maria, "nada disso quer fazer sentido pra mim, por quê? por que você fez isso comigo? espero que não me procure mais, espero nunca mais ter o (des)prazer de te ver, todas aquelas juras, noites e manhã, foram ficções suas. ilusões pra mim. eu te amei, ainda te amo na verdade, infelizmente, mas  não quero mais, o pior é saber que você provavelmente vai passar o restante de sua vida sozinho, sem qualquer amigo, a não ser que alguém tenho coragem de penetrar nessa sua carcaça dura. enfim, não me procure". dói. guardo o celular. olho pro céu, a multidão passa ao meu lado e é ai que vejo um brilho rosado, igual ao que vi no lago, agora no céu. sinto meu corpo leve, vejo uma imagem no meio da luz, uma pequena criatura azul, com a cabeça rosada, olhos brilhantes amarelos, dois rabos, uma joia vermelha na testa e uma na ponta de cada uma das caudas. ele gira no ar, no brilho, leve, assim como eu me sinto, eu pareço estar cada vez mais perto dele, flutuando. conheço essa figura, é mesprit. é dito que ele é o pokemon que criou os sentimentos e emoções, que ele proporcionou para as pessoas a capacidade de ver a tristeza e a alegria do mundo, e do amor, com certeza. estou bem perto dele agora, olho em volta e é tudo rosa, tudo brilho, consigo ver um pouco, com dificuldade, a multidão lá embaixo, os prédios ao meu redor. mesprit sorri e atrás dele vejo outra pessoa flutuando. estrela. meu coração bate mais rápido, sinto uma vertigem, meus olhos se fecham, quando dou por mim e os abro novamente estou no chão, de volta no meio do multidão