Rainbow Gallery

Era bem tarde naquele dia. As badaladas soavam no sino da capela. Marc olhava para a igrejinha tristemente, enquanto um coro natalino cantava em seu redor. Nevava levemente e quase não havia carros na rua. O garoto imaginava àqueles que amava, onde estariam na noite da maior festa mundial?
Seu pai e sua mãe deveriam estar juntos, aproveitando uma ceia especial a sós. Seu irmão mais velho estava com a namorada em algum lugar do mundo, provavelmente Paris. Só ele mesmo permanecia sozinho naquela noite, entristecido. Jamais deveria ter começado uma jornada Pokémon. A única coisa que tinha conseguido fora uma Caterpie e claro, seu Nidorino de presente do irmão. Mas não adiantava. Tinha desafiado uns quinze treinadores, não conseguira vencer nenhum sequer. Onde estaria o problema.
Marc mal percebera que um homem se aproximava calmamente. O estranho tocou no ombro dele, que tomou um susto.
- Quem é você?! Eu não tenho dinheiro e nem celular, me deixe em paz! – Disse o jovem cruzando os braços para se defender e fechando os olhos de medo.
- Calma meu rapaz. Eu quero apenas batalhar com você. – Disse uma voz leve e envelhecida.
Não dava para ver quem era o homem, pois estava com um sobretudo vinho com capuz. Entretanto, Marc recusou a proposta.
- Sinto muito, mas minha resposta é não. Eu só perco minhas batalhas. Sou um fracote.
O encapuzado se aproximou e falou:
- Com a prática é que se aprende meu rapaz. Eu insisto, não luto há anos em uma batalha e vi que você precisa se animar.
O jovem repensou e decidiu:
- Está certo, lutaremos. Uma batalha em dupla, tudo bem?
- Perfeitamente. – Respondeu o adversário.
- Aliás, como é seu nome? – Indagou o menino.
- Chame-me de Elon. – Pediu o rival.
Os dois se afastaram e foram a um playground abandonado na praça central. Uns balanços e um tobogã estavam cobertos de neve, um gira-gira enferrujado rangia e uma gangorra permanecia em equilíbrio como uma balança. A dupla se entreolhou e o homem deu o primeiro comando:
- Eu escolho Sawsbuck e Delibird!
Uma rena graciosa com galhos no lugar dos chifres foi o primeiro a aparecer. O segundo era uma ave charmosa vermelha e branca. Ambos pareciam brilhar e cintilar com o clima natalino. Marc não tinha opção e invocou seus parceiros:
- Nido, Lily, vão!
O rinoceronte e a larva apareceram sorridentes, mas com intenso frio. A Caterpie chegou até a espirrar levemente.
- Como eu esperava. Saw use Energy Ball! Del, Present!
Uma esfera esverdeada e uma caixa rosa emergiram dos monstrinhos. Marc agiu rapidamente:
- Lily, String Shot e Nido, Fury Attack!
A pequena coisinha verde disparou um jato de seda como se fosse uma arminha de água para atacar o oponente. Já o mamífero lilás, pareceu um búfalo indo de encontro aos ataques dos adversários.
- Parem agora mesmo! – Gritou Elon aos dois Pokémons.
Por mais incrível que parecesse, os dois pequeninos pararam os golpes. O estranho explicou:
- Meus golpes irão acabar com você se usar um ataque direto do Nidorino. A esfera ou o presente irão explodir e você perderá um deles. O outro apanharia com um Icy Wind do Delibird.
Marc ficou em choque. Se aquilo fosse verdade, ele deveria parar.
- Mas eu não consigo pensar em mais nada! – Explicou ele cabisbaixo, a ponto de chorar.
- Acalme-se. O String Shot pode ter mais funções do que me atacar diretamente. E outros golpes podem cessar a bola de energia. – Retrucou o rival.
O garoto pensou bem. Talvez ele só perdesse por não saber aplicar técnicas em batalha e não porque os outros eram mais fortes. Ir direto aos oponente, usando os Pokémons como se fossem descartáveis era um erro tremendo.
- Entendi o que você quis dizer! Continue minha Caterpie. Já você Nido, salte e use Peck!
A reação foi direta. O tiro de seda prendeu a caixa que explodiu no Delibird e o rinoceronte saltou por cima da esfera e usou a bicada, um golpe que tiraria danos por vantagem do adversário.
Elon sorriu, De fato, faltava apenas técnica ao rapaz. Mesmo sendo superiormente fortes e quase não terem tomado danos, ele retornou os dois Pokémons.
Marc estranhou e perguntou:
- Por que você fez isso?
- Minha lição e seu presente foram recebidos Marc. Espero que você possa ter uma visão diferente nas batalhas. Preciso partir.
Como mágica, o homem sumiu diante do garoto, deixando uma trilha de pó dourado e uma mensagem. O menino apanhou o bilhete e leu:
- Elon é um anagrama de...
Ele enfim havia entendido. As doze badaladas tinham acabado, mas o melhor Natal de sua vida, Marc tinha presenciado.
Três anos se passaram desde aquela noite.
- E o campeão da liga, em plena véspera natalina é Marc Phoenix!
O jovem ergueu a taça. Os repórteres já faziam colunas, um garoto que mudou sua vida da água para o vinho e venceu a tudo e todos pelo caminho. Lily, sua Butterfree, pousou em seu ombro feliz pela vitória contra um Gyarados.
Um jornalista se aproximou e perguntou:
- Marc, primeiramente gostaria de lhe dar os parabéns é claro. Mas tenho uma pergunta. Qual o segredo do seu sucesso?
Sem delongas, respondeu:
- Acreditar no sentimento natalino. Devo tudo isso a meu amigo Elon, que deve ter assistido tudo do céu.
- Sinto muito pela morte dele. – Disse o repórter sem jeito.
O garoto começou a gargalhar. Mal sabia a mídia que seu amigo estava trabalhando para mais uma noite intensa no dia 24 de dezembro.
Porém, Marc nunca iria esquecer aquele dia, onde o Natal serviu como mostra de fé e compaixão de um recomeço na vida dele.